O país inteiro acompanha comovido, com um misto de fascínio e curiosidade, o desenrolar do drama envolvendo a trágica morte da pequena Isabela Nardoni. Não queria voltar a este assunto pois beira o incompreensível a brutalidade e os requintes de maldade com os quais a menina, indefesa, foi assassinada. Apesar de ter evitado o noticiário e procurado não conversar a respeito, os depoimentos da sexta-feira, a divulgação dos laudos e a entrevista do casal Nardoni acabaram por criar um novo clímax, o qual é inescapável comentar.
Para mim, toda essa exposição, a exploração de alguns setores da mídia, a negativa do pai e da madrastra, o conteúdo dos laudos, a atuação da polícia, a guerra dos advogados, a reação das pessoas, constituem um cenário complexo, onde todo cuidado é pouco na hora de formar sua opinião, e, eventualmente, escolher de que lado ficar.
A despeito da polícia já ter apresentado uma solução, baseada em laudos técnicos e outras provas, indiciando o pai e a madastra de Isabela, chamam a atenção alguns erros primários cometidos no tratamento inicial do caso, que revelam a precariedade da formação dos quadros policiais em todo o país. Erros esses, que tanto poderão servir para a derrubada de peças de acusação, como apontam, dizendo o mínimo, para uma simplificação do trabalho de investigação realizado no momento da ocorrência. Considerando a rapidez com que a polícia foi acionada, tendo chegado ainda a tempo de acompanhar o trabalho de resgate de Isabela, que ainda estava com vida, não é difícil concordar que é inadmissível que o apartamento não tenha sido, imediatamente, lacrado pela autoridade policial, preservando para a perícia o local onde se desenvolveu o crime. Da mesma forma, foi decepcionante não terem isolado toda a área em torno e feito uma varredura rigorosa em todas as unidades do prédio, fechadas ou não, em busca da tal terceira pessoa que o casal alega existir na cena da tragédia.
Com a dimensão e interêsse que o caso despertou, algumas correções foram feitas e a entrada em cena dos técnicos criminais tornou-se o principal responsável pela elucidação dos fatos e eventual incriminação dos culpados. O arsenal de que essa especialidade dispõe hoje em dia, como os tais luminol e crime scope, permitem a descoberta de indícios, pistas, e o levantamento de provas que vão além do tradicional, podendo, inclusive ajudar a inferir a dinâmica dos acontecimentos. Aparentemente, apesar da contaminação do local, esse trabalho foi feito com cuidado e competência, fornecendo importantes dados para as conclusões dos investigadores, contudo, as seguidas diligências que tomaram lugar no apartamento, possivelmente, também trabalharão contra a acusação, o que é deplorável.
Da entrevista do casal, minha primeira impressão foi a de duas pessoas cansadas, abaladas, apreensivas e desnorteadas. Não creio que tenham absorvido a gravidade das acusações que pesam sobre eles. Aliás, duvido que Alexandre Nardoni seja capaz de fazer isso. Ele se mostrou alguém muito limitado, com isso bastante repetitivo e pouco claro em sua fala e seus pontos de vista. Como, obviamente, parte desse depoimento obedecia a um roteiro, soaram falsas algumas afirmações dele sobre a união familiar e o clima dominante entre eles. Não sei se pelo nervosismo e a necessidade de se defender perante a opinião pública, ou se por hábito, visivelmente emocionada, Anna Carolina repetidamente interrompeu e completou as afirmações do marido, o tempo todo com um choro incontido, de modo mais consistente e sincero que ele, porém, ficou faltando uma afirmação mais clara, incisiva e inequívoca da inocência dos dois.
O mistério, a histeria de alguns focas, a constante exposição dos familiares, a pressão da polícia e a cobrança - legítima - de um público sedento de justiça tiraram deles a possibilidade de uma defesa articulada. Esta, deverá atuar em várias frentes, como, por exemplo, permitir que eles abrissem a boca, ainda que de forma controlada. Contudo, ela está dando mole. Não sei se fez o melhor. Não escapou a ninguém o fato de não terem sido tocados na entrevista temas como o sangue no automóvel e na fralda, os cabelos arrancados, as ameaças na festa, o tecido da rede na camisa, a marca do chinelo, a esganadura, o alegado tempo entre a chegada ao prédio e a descoberta da queda. Tudo isso constituem fortes argumentos para colocar o casal protagonizando a morte da menina.
Confesso, porém, que fiquei em dúvida. E acho que eles têm direito a esse benefício. Apesar da contundência das provas periciais e das afirmações da polícia, eventualmente convicta da culpa do casal, não gostaria de ser mais a um a pré-julgar. O Ministério Público deve oferecer a denúncia nos próximos dias e prefiro aguardar o desenrolar dos acontecimentos para me convencer de que eles foram capazes de levar a cabo uma ignomínia, uma perversidade, uma crueldade como essa. Se foram eles, qualquer castigo dos homens será pouco e insuficiente para puni-los. Que Deus se apiede de suas almas.
Para mim, toda essa exposição, a exploração de alguns setores da mídia, a negativa do pai e da madrastra, o conteúdo dos laudos, a atuação da polícia, a guerra dos advogados, a reação das pessoas, constituem um cenário complexo, onde todo cuidado é pouco na hora de formar sua opinião, e, eventualmente, escolher de que lado ficar.
A despeito da polícia já ter apresentado uma solução, baseada em laudos técnicos e outras provas, indiciando o pai e a madastra de Isabela, chamam a atenção alguns erros primários cometidos no tratamento inicial do caso, que revelam a precariedade da formação dos quadros policiais em todo o país. Erros esses, que tanto poderão servir para a derrubada de peças de acusação, como apontam, dizendo o mínimo, para uma simplificação do trabalho de investigação realizado no momento da ocorrência. Considerando a rapidez com que a polícia foi acionada, tendo chegado ainda a tempo de acompanhar o trabalho de resgate de Isabela, que ainda estava com vida, não é difícil concordar que é inadmissível que o apartamento não tenha sido, imediatamente, lacrado pela autoridade policial, preservando para a perícia o local onde se desenvolveu o crime. Da mesma forma, foi decepcionante não terem isolado toda a área em torno e feito uma varredura rigorosa em todas as unidades do prédio, fechadas ou não, em busca da tal terceira pessoa que o casal alega existir na cena da tragédia.
Com a dimensão e interêsse que o caso despertou, algumas correções foram feitas e a entrada em cena dos técnicos criminais tornou-se o principal responsável pela elucidação dos fatos e eventual incriminação dos culpados. O arsenal de que essa especialidade dispõe hoje em dia, como os tais luminol e crime scope, permitem a descoberta de indícios, pistas, e o levantamento de provas que vão além do tradicional, podendo, inclusive ajudar a inferir a dinâmica dos acontecimentos. Aparentemente, apesar da contaminação do local, esse trabalho foi feito com cuidado e competência, fornecendo importantes dados para as conclusões dos investigadores, contudo, as seguidas diligências que tomaram lugar no apartamento, possivelmente, também trabalharão contra a acusação, o que é deplorável.
Da entrevista do casal, minha primeira impressão foi a de duas pessoas cansadas, abaladas, apreensivas e desnorteadas. Não creio que tenham absorvido a gravidade das acusações que pesam sobre eles. Aliás, duvido que Alexandre Nardoni seja capaz de fazer isso. Ele se mostrou alguém muito limitado, com isso bastante repetitivo e pouco claro em sua fala e seus pontos de vista. Como, obviamente, parte desse depoimento obedecia a um roteiro, soaram falsas algumas afirmações dele sobre a união familiar e o clima dominante entre eles. Não sei se pelo nervosismo e a necessidade de se defender perante a opinião pública, ou se por hábito, visivelmente emocionada, Anna Carolina repetidamente interrompeu e completou as afirmações do marido, o tempo todo com um choro incontido, de modo mais consistente e sincero que ele, porém, ficou faltando uma afirmação mais clara, incisiva e inequívoca da inocência dos dois.
O mistério, a histeria de alguns focas, a constante exposição dos familiares, a pressão da polícia e a cobrança - legítima - de um público sedento de justiça tiraram deles a possibilidade de uma defesa articulada. Esta, deverá atuar em várias frentes, como, por exemplo, permitir que eles abrissem a boca, ainda que de forma controlada. Contudo, ela está dando mole. Não sei se fez o melhor. Não escapou a ninguém o fato de não terem sido tocados na entrevista temas como o sangue no automóvel e na fralda, os cabelos arrancados, as ameaças na festa, o tecido da rede na camisa, a marca do chinelo, a esganadura, o alegado tempo entre a chegada ao prédio e a descoberta da queda. Tudo isso constituem fortes argumentos para colocar o casal protagonizando a morte da menina.
Confesso, porém, que fiquei em dúvida. E acho que eles têm direito a esse benefício. Apesar da contundência das provas periciais e das afirmações da polícia, eventualmente convicta da culpa do casal, não gostaria de ser mais a um a pré-julgar. O Ministério Público deve oferecer a denúncia nos próximos dias e prefiro aguardar o desenrolar dos acontecimentos para me convencer de que eles foram capazes de levar a cabo uma ignomínia, uma perversidade, uma crueldade como essa. Se foram eles, qualquer castigo dos homens será pouco e insuficiente para puni-los. Que Deus se apiede de suas almas.
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