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Voltando devagar

Dois anos depois, senti vontade de voltar a escrever. Já havia perdido um bocado do entusiasmo, me sentindo incapaz de produzir algo interessante, que valha a pena ser lido, sentimento que pouco mudou. O que mudou foi o jeito como estou começando a ver as coisas. Outro dia, li algo que me chamou a atenção, tipo: "A arte não é para o artista mais do que a água é para o encanador”. E continuava, "Não, a arte é para quem a absorve, mesmo que o artista nem sempre tenha plena consciência do quanto isso é verdade. Pois sim, na verdade, a maioria dos artistas que ainda decidimos considerar entre “os grandes” estavam fazendo isso para fins em grande parte masturbatórios, em oposição à pura motivação de “querer criar algo para os outros." Aparentemente, trata-se de uma fala de um personagem de filme. Ainda estou por checar.

Definitivamente, o que faço aqui não é arte, não tenho essa pretensão, no entanto, essa é sem dúvida uma questão estranha sobre a arte como um conceito, que a pessoa que a faz está fazendo isso principalmente para estabelecer seu próprio mecanismo de enfrentamento emocional e modo de sobrevivência, e a pessoa que a consome a aprecia porque recolhe seus próprios significado ressonantes dela. Com certeza, isso representa um excelente estímulo para que nos expressemos, não importa se a mensagem vai tocar alguém. Acontece, ou não, independente da nossa vontade ou objetivo em primeiro lugar. 

A necessidade de auto-expressão é uma parte importante de nossas vidas. Quando não nos expressamos, reprimimos partes significativas de quem somos e, por vezes, causamos a nós mesmos conflito e dor. Nossa frustração se transforma em raiva. Nosso isolamento se transforma em depressão. Nesses dois anos, que na verdade, são bem mais, que a preguiça, a alegada falta de tempo, a ausência de motivação, a baixa inspiração, me mantiveram longe deste canal, muito aconteceu, e a sensação é de perda, por não ter feito o meu próprio registro de observador da cena política, cultural, esportiva, ou seja o que for, do cotidiano e dos fatos que ocorreram na minha vida e no que vi dela.

Não seria um memorialista, pra isso teria que ter tido uma passagem nesta terra bem mais rica, com muito mais amigos, viajado mais, conhecido mais lugares, e muito mais capacidade de reter e compreender o que se passou. Definitivamente, não é o caso. 

Vou voltar. Não sei quando, mas, vou voltar.

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