Na terça-feira passada, 17, fui surpreendido com uma das piores notícias da minha vida - um dos amigos que mais gosto, um por quem tenho enorme admiração, um irmão que a vida me deu, havia deixado este mundo. A notícia não dava margem a dúvidas. Era um cartão, um convite para o velório e cremação no dia seguinte. Não tinha opção, a não ser tentar digerir aquela trágica informação.
Confesso que nunca imaginei que esta cena pudesse acontecer. Nunca me vi nesta situação, ainda mais em se tratando do Sylvio. Achei que ele estaria aqui pra sempre. Que todos partiriam, inclusive eu, e ele aqui ficaria até quando ele próprio resolvesse que chegar a hora de descansar. Ele era assim, não convencional e suspeitei que, como sempre fez, resolveria também essa questão.
Hoje em dia, com a divisão ideológica vigente e as mudanças nos códigos de conduta, poucos diriam dele: que cara maneiro! Mesmo os que se surpreendiam ou não gostavam de algumas de suas facetas, contudo, tinham essa opinião. No mínimo, respeitavam a inteligência privilegiada, o conhecimento amplo e a capacidade intelectual, que eram suas marcas.
E o que eu via de tão interessante pra dizer que ele é um cara maneiro?
Sylvio é daquelas pessoas que não se faz mais. Pra mim, o que me chamou atenção, desde que o conheci, foi o fato de que sempre fugiu do comum, do corriqueiro, do "normal", e não estava nem aí se você gostava ou não do que dizia ou fazia! Naquele final dos anos 80, ainda não se falava essas coisas, ele era o que hoje se chama "politicamente incorreto", o que pra mim, é uma grande virtude. Ele se
pautava por absoluta sinceridade, respeito aos próprios princípios, honestidade e total entrega a tudo que fazia.
Com uma personalidade forte, singular, na vida profissional, além de muito preparado e inteligente, tinha um raciocínio rápido e lógica apurada, e até uma certa arrogância, pois, invariavelmente, enxergava as coisas melhor e mais rápido do que seus pares, fazendo tudo muito certo, desde a primeira vez. Se precisasse de uma solução para um problema difícil, chamava o Sylvio, e você obteria não apenas uma boa resposta, mas, em geral, uma brilhante.
Sylvio tinha dois únicos defeitos, se é que isso pode ser considerado defeito: não era chegado a cumprir horários, fazia as coisas no tempo dele, com uma jornada, em geral, maior do que o comum e deixava tonto quem precisava assumir algum compromisso, algum prazo, nos projetos que estava envolvido. Quando eu perguntava pra ele: e aí? Quando fica pronto? Ele respondia: "não sei. Quando eu terminar, fica pronto". Aquilo por vezes me deixava louco! E era assim q acontecia. Acabava inventando alguma coisa, só pra acalmar a expectativa dos clientes.
Pra não me alongar, na minha modesta opinião, assim era o Sylvio: inteligentíssimo, excêntrico, às vezes mal humorado, arguto, questionador, competente, apaixonado pelo que fazia, um amigo bom e fiel, amante da música, do futebol e do Botafogo, meu parceiro na sinuca e no chopp, goleiro, com um enorme cultura, não apenas sabia tudo de futebol ou de música, mas, sobre qualquer assunto tinha algo a dizer ou a revelar, e um coração imenso, que só aos mais próximos deixava ver.
Um cara muito maneiro, que mora no meu peito, e que lamento demais não ter estado com ele nos últimos anos.
Sylvio, meu querido amigo, você sempre será lembrado por sua irreverência, sagacidade, grande inteligência, carinho com os amigos e por não se filiar a nada que não fosse a sua própria visão de mundo. Obrigado por esses exemplos e por tudo que aprendi com você. Que Deus te receba de braços abertos, e me conceda a paz à alma, pois as saudades de você são grandes e difíceis de carregar.
Um dia, espero te encontrar de novo. E que neste lugar exista uma mesa sinuca e um bar, para reeditarmos as maravilhosas conversass e noitadas que passamos juntos.
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