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O Apedeuta de lá

Publicado no New York Times de anteontem, 18/4 , o artigo do editor de opinião David Brooks, comenta a trajetória e o desgaste do Senador Obama na campanha presidencial. Ele desmistifica a imagem de líder renovador e revela um Obama igual aos outros políticos, que usa os mesmos subterfúgios, os mesmos golpes baixos, os mesmos métodos para obter a simpatia do eleitorado.

Carismático, inteligente, carregando o peso de suas origens, em um país fraturado racialmente, tirando o fato de ser letrado e culto, Obama tem algumas semelhanças com o Apedeuta tropical. Até o mote inicial da campanha se parecia, lá tomou a forma de "a audácia da esperança". Para chegar à Casa Branca, contudo, Obama está sujeito a um sistema que obriga uma longa e desgastante exposição, e luta feroz nos intestinos das agremiações partidárias. E a isso ele parece não estar resisitindo.

Quem quiser ler no original clica aqui.

"Lá atrás em Iowa, Barack Obama prometeu ser algo novo - um líder não convencional que confrontaria verdades desagradáveis, abraçaria novas políticas e uniria o país. Se ele tivesse nocauteado Hillary Clinton em New Hampshire e entrado cedo no modo eleição-geral, este grande pensador teria se tornado algo assim.

Mas ele não a nocauteou, e a aura em torno de Obama mudou. Cortejando furiosamente os eleitores Democratas e aparentemente exausto, Obama emergiu como um político mais convencional e um liberal mais ortodoxo.

Ele pontuou seu desempenho no debate da noite de quarta-feira com pequenas mentiras, evasivas e hipocrisias que são coisas típicas de políticos convencionais. Ele alegou falsamente que sua caligrafia não estava em um questionário sobre controle de armas. Ele afirmou que nunca atacou Hillary por seus exageros sobre o aeroporto de Tuzla, embora sua campanha esteja em cima disso. Obama condenou cândidamente a prática de pegar as palavras de outro candidato fora de contexto, mas ele vem fazendo exatamente o mesmo com John McCain, especialmente o comentário dele sobre os 100 anos no Iraque.

Obama também fez um par de grandes e cínicas promessas que são o sinal de alguém que está pensando mais na campanha do que em governar.

Ele deu uma garantia de nunca aumentar os impostos de quem ganhe menos de 200 a 250 mil dólares por ano. Isso vai tornar impossível endereçar a reforma da previdencia, em algum momento da presidencia Obama. Isso também vai fazer mais difícil bancar o vasto conjunto de incentivos fiscais para a classe média, as reformas na assistencia médica e a política de energia dos Projetos Manhattan que ele prometeu entregar.

Em seguida ele assumiu um compromisso ferrenho de trazer de volta as tropas no Iraque dentro de 16 meses. Nem Obama nem ninguém tem qualquer pista das condições existentes na época quando o próximo presidente assumir. Ele poderia ter falado com responsabilidade que deseja trazer as tropas para casa mas que fará um juizo no momento oportuno. Em vez disso, ele se trancou rigidamente em uma política que não estará completamente implementada por outros três anos.

Se Obama for eleito, ele vai voltar atrás no seu juramento - nesse caso ele destruiria a sua credibilidade - ou correrá o risco de um genocidio na região e uma guerra política selvagem em casa.

Depois tiveram as questões culturais. Charles Gibson e George Stephanopoulos da ABC News deram um calor perguntando durante um bom tempo sobre os comentários acerca de Jeremiah Wright e a classe trabalhadora, chamando-os de “bitter” (n.t.: bitter tem uma conotação negativa, sugere pobreza de esírito e incompetência). Mas o fato é que os eleitores querem um presidente que basicamente divida com eles valores e experiências de vida. Legitimamente ou não, eles procuram por símbolos como Michael Dukakis em um tanque, John Kerry velejando em windsurf ou o corte de cabelo de John Edwards como pistas de valores compartilhados.

Quando Obama começou a corrida, ele parecia com uma figura transcedente que poderia entender uma grande variedade de experiencias de vida. Porém, ao longo dos últimos meses, aconteceram coisas que o fizeram parecer mais com meus velhos vizinhos do Hyde Park em Chicago.

Alguns de nós amamos o Hyde Park por sua diversidade e idiosincrasias, assim como há aqueles que adoram Cambridge e Berkeley. Mas ele está entre os lugares mais academicos e liberais por aí. Quando Obama vai à igreja embuido do estilo James Cone da teologia da libertação, quando ele faz comentários mal-informados sobre eleitores da classe trabalhadora, quando ele rola uma 37 (n.t.: expressão do jogo de bocha) só para exasperar-se, os eleitores vão refletir se ele é um deles. Obama tem que endereçar essas dúvidas, e ele tem feito isso de modo muito pobre até agora.

Era inevitável que o período da deificação do “Sim, nós podemos” chegaria ao fim. Não era inevitável que Obama pareceria agora tão vulnerável. Ele vai ganhar a indicação, mas em uma disputa direta contra John McCain, ele está atrás na Florida, Missouri e Ohio, e meramente empatado em estados que deveria vencer como Michigan, Minnesota, New Jersey e Pennsylvania. Um Democrata generico agora bate um Republicano generico por 13 pontos, mas Obama está arrastando o seu próprio partido. Um em cinco Democratas dizem que votariam em McCain contra Obama.

O eleitores de eleições gerais são diferentes dos eleitores de prévias. Entre eles, Obama está perdendo no meio dos mais velhos e dos homens. Em vez de ganhar entre os eleitores brancos mais educados, que estão cansados de Bush e de políticos convencionais, ele faz pior que indicados anteriores. John Judis e Ruy Teixeira estimaram que um Democrata tem que ganhar 45 porcento de tais eleitores para levar a Casa Branca. Durante as últimas semanas, consultei diversos dos experimentados políticos Democratas e todos eles pensam que isso vai ser difícil.

Alguns meses atrás, Obama estava exibindo seus talentos. Hillary Clinton jogou ele por terra, e nós agora encaramos um interessante fenômemo. Os Republicanos já tinham, há tempos, assumido que perderiam por causa da economia e do triste estado do seu partido. Agora, os Democratas estão profundamente preocupados que o seu indicado vá perder em Novembro.

Bem-vindos a 2008. Todo mundo miserável.

David Brooks
Colunista de opinião do New York Times

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