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Isabela, uma tragédia

Quando penso no caso da menina Isabela Nardoni, cruelmente morta sabe-se lá por que monstro, lembro das mães e pais que, país afora, lutam pela vida e assistem, na maioria das vezes impotentes, à auto-destruição que muitos filhos se entregam, pela falta de perspectiva diante de uma realidade cada vez mais competitiva, onde histórias de decepção, insucesso e desespero ocorrem com uma frequencia assustadora.

Isabela teve a vida covardemente interrompida muito cedo, quando a inocência ainda prevalesce e não se percebe o quanto este mundo pode ser duro e difícil de viver. É nessa época, e nos anos imediatos que se forja a capacidade de enfrentar os desafios e superar as dificuldades de um cotidiano marcado, principalmente nos grandes centros, pela violência, exclusão, egoísmo, inveja, cinismo, a exacerbação do eu e outras mazelas do ser humano.

Ocupados com a sobrevivência e garantia do padrão de vida, os pais acabam por não dedicar à criança e ao jovem a atenção e orientação necessárias, nem oferecem a eles alternativas saudáveis ao uso de drogas, à associação com grupos marginais e ao envolvimento com atividades ilícitas.

As distorções na constituição de famílias e na geração de filhos, pela antecipação dos relacionamentos amorosos, pela inversão de valores, pela tolerância generalizada com os novos comportamentos é o pano de fundo de uma geração frustrada com a família. Hoje, as ligações emocionais foram banalizadas, troca-se de parceiro como de roupa, os elos são tênues e o pensamento geral é que não se deve perder tempo. Em geral, quem sofre as maiores consequencias disso são os filhos. Vilipendiados, eles vivem o virtual abandono como se fosse normal, e não desenvolvem as estruturas necessárias para suportar as pressões na escola, no trabalho e no convívio com seus amores e amigos.

Tudo isso me faz crer que precisamos desenvolver em casa uma verdadeira revolução de hábitos e costumes, retornando algumas práticas hoje tidas como retrógradas como o diálogo, a presença e os limites, bem como promover também na escola, não apenas a educação sobre sexualidade, mas a existência de professores atentos e preparados a evidenciar aos jovens, desde a mais tenra idade, valores e princípios que estimulem e ajudem na formação de lares onde a tolerância, a atenção, o respeito, o amor sejam a base do convívio e das relações familiares. Ninguém será capaz de jogar uma criança pela janela, consumir substâncias alucinógenas ou envolver-se com meliantes se tiver, desde cedo, uma formação adequada e o carinho dos seus.

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