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Véspera de jogo

Nos meus tempos de menino, e isso já vai longe, a véspera de uma prova era, sempre, um dia arrastado. As horas não passavam, o estômago logo sentia, a expectativa dominava. A noite, então, era interminável -- a todo instante acordava, ansioso e ainda estava escuro. O sofrimento só acabava quando me via com aquela lista de perguntas à minha frente, lápis na mão, e a vontade de acertar tudo que havia sido perguntado. De uma certa época para agora, isso se transferiu para as vésperas dos jogos do Flamengo.

O dia anterior é sempre de muita espera, ansiedade, povoado de pensamentos, visões, esperanças, vislumbres. Imagino o Maracanã transbordando de gente (embora isso já não aconteça mais); uma mistura de cheiros, as pessoas exalam adrenalina, o sol escaldante; o anel superior formando uma pequena sombra, que só se consuma no segundo tempo; o estádio inundado de bandeiras, faixas, o pessoal fantasiado, buzinas, apitos, bateria, os acordes dos metais, cânticos, gritos, tensão e nervosismo pairando no ar e a massa humana unida no mesmo sentimento - vencer. Isso tudo passa, e repassa na minha cabeça o dia inteiro. Só vou sossegar um pouco quando o árbitro apitar o fim do jogo.

Realmente, poucas coisas são mais emocionantes e belas, que o Maracanã lotado. O espetáculo que as torcidas oferece é inigualável. Sobretudo agora, que as famílias voltaram a frequentá-lo. Não sei se em outros países a coisa funciona do mesmo jeito, é possível que sim -- afinal, torcedor é tudo igual, aqui ou alhures -- mas, duvido que se emocionem e se manifestem da mesma forma que o brasileiro, e, em especial, o carioca. Nossa irreverência, entrega, paixão e criatividade não são maiores, nem menores, que as de ninguém, mas só quem já foi ao maraca nesses dias sabe do que estou falando. É difícil descrever a atmosfera, o ambiente, as imagens, e as situações que presenciamos nessas ocasiões. É preciso estar lá, para sentir. E é a expectativa de ver e vivenciar isso tudo que gera a inquietação.

Espero que amanhã os deuses do futebol estejam de bom humor e façam os jogadores disputar o jogo com lealdade e fairplay, que S.Pedro colabore e suspenda a chuva no horário da partida, e que S. Judas Tadeu faça que a festa seja completa. Ou seja, que o Flamengo conquiste o seu 30º título de campeão carioca, e Joel feche com chave de ouro esta passagem pelo clube. Ele merece, os jogadores merecem, e nós, torcedores, merecemos.

Saudações rubro-negras.

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