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O que foi a cúpula de Obama?

Do Washington Post
por Charles Krauthammer

A tradução é minha



Havia algo estranhamente desproporcional na recém-concluída cúpula nuclear para a qual o presidente Obama convocou 46 líderes mundiais, no maior encontro em solo americano desde 1945. Essa reunião foi sobre a fundação da Organização das Nações Unidas, que há 65 anos parecia um acontecimento de importância histórica mundial.


Mas e esta? Sobre o que foi essa grande convocação? Para evitar a propagação de material nuclear em mãos terroristas. Um objetivo digno, sem dúvida. Infelizmente, as duas maiores ameaças sequer estavam na agenda.

A primeira é o Irã, que está enriquecendo urânio frenéticamente para fabricar uma bomba, e o nosso Departamento de Estado identifica como o maior exportador de terrorismo no mundo.

Tampouco na ordem do dia estava a produção de plutônio do Paquistão, o qual está contribuindo para o estoque mundial de material físsil todos os dias.

O Paquistão é uma potência relativamente amigável, mas é o mais instável de todos os estados nucleares. Ele está em luta contra a insurgência talibã e é a casa da al-Qaeda. Bombas suicidas saem regularmente de suas principais cidades. Além disso, o seu próprio serviço secreto, o ISI, é de lealdade duvidosa, alguns dos seus elementos são solidário com os talibãs e, portanto, por extensão, a al-Qaeda.

Então, qual foi o maior avanço anunciado por Obama no final da conferência de dois dias? Que a Ucrânia, Chile, México e Canadá irão se livrar de várias quantidades de urânio enriquecido.

Que alívio. Eu não sei você, mas eu fico noites acordado me preocupando com o urânio do Canadá. Eu conheço essas pessoas. Eu cresci lá. Você não tem idéia do que eles são capazes de fazer. Se Sidney Crosby não tivesse marcado aquele gol para ganhar a medalha de ouro olímpica, não há como dizer o que poderia ter se seguido.

Vamos estipular que controlar material nuclear é uma coisa boa. Mas, é uma coisa menor, especialmente quando o Irã está fora da mesa e o Paquistão está criando plutônio novo para cada grama de urânio canadense enviado para os Estados Unidos.

Com o cálculo de que a eliminação de quantidades relativamente pequenas de material físsil de países amigos estáveis, talvez, não tivesse o impacto desejado, Obama anunciou com orgulho que os Estados Unidos e a Rússia estarão se desfazendo de 68 toneladas de plutônio. Não foi mencionado o fato de que este acordo foi feito há 10 anos - e, sob o novo protocolo, não se começará a eliminar o plutônio antes de 2018. Está se sentindo mais seguro agora?

O local adequado para esses pequenos acordos sobre armas nucleares é um encontro de especialistas em Genebra que, depois de trabalhar os detalhes, chame seus ministros do Exterior para assinar. O que fez desse desfile de líderes mundiais em Washington um exercício de distração - tirar o foco da ameaça iminente do Irã, em relação à qual os 15 meses de ingênuo "noivado" de Obama nada conseguiu, além da perda de 15 meses.

Com efeito, a cúpula de Washington foi parte de uma grande desorientação - a Primavera "nuclear" de Obama. Na semana passada: um tratado START, impregnado precisamente do tipo de obsolescência da Guerra Fria que Obama condena rotineiramente. O número de ogivas nucleares do envelhecido e decadente arsenal nuclear da Russia é uma irrelevância, agora que a luta existencial entre os EUA a União Soviética acabou. Uma grande conquista do tratado, do ponto de vista do presidente russo, Dmitry Medvedev, é que poderia congelar a implantação de defesas antimísseis dos EUA - o que limita o único maior avanço anti-nuclear do nosso tempo.

Isto seguiu-se a um abrandamento da postura de dissuasão nuclear dos EUA (livrando Estados em conformidade com as políticas de não-proliferação de retaliação nuclear dos EUA se lançassem um ataque bioquímico contra nós) - uma mudança tão bizarra e, literalmente inacreditável, que mesmo Hillary Clinton ainda não conseguiu explicar que ameaça de retaliação continua sobre a mesa.

Tudo isso durante uma semana, na qual oficiais superiores do exército dos EUA disseram ao Congresso que o Irã está a cerca de um ano distante de adquirir o material físsil para fabricar uma bomba nuclear. Portanto, a apenas poucos anos até o armamento.

Em que ponto o mundo muda irrevogavelmente: os estados árabes vão se nuclearizar, o Tratado de Não-Proliferação morre, a ameaça de transferência nuclear a grupos terroristas cresce astronomicamente.

Um lembrete: A Síria acaba de ser descoberta transferindo os letais mísseis Scud ao Hezbollah, a mais poderosa força do terrorismo não-estatal do Oriente Médio. Esta é a mesma Síria que estava secretamente construindo um reator nuclear projetado pelos norte-coreanos até que a força aérea israelense destruiu as instalações há três anos.

Mas não se preocupe. O urânio canadense está garantido. Um comunicado não deliberativo da cúpula foi emitido. E um "plano de trabalho" foi acertado.

Oh, sim. E haverá outra cúpula em dois anos. O sonho vive.

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