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A imprensa confunde

O editorial de hoje do New York Times é um primor de ambigüidade: começa declarando a resolução da ONU que autoriza o uso de "todos os meios necessários" para proteger civis na Líbia como "um extraordinário momento da história recente", e a seguir afirma que "não há fórmula perfeita para intervenção militar. Ela deve ser usada com prudência".


O texto destaca que "a convocação para a ação foi feita em uma velocidade impressionante, liderada pela França e Inglaterra, e encorajada pela Liga Árabe", e que Obama corretamente concordou em lançar as forças americanas somente depois de convencido de que os outros países dividiriam a responsabilidade e o custo de impor a "lei internacional". E lembra que há questões pendentes sobre os objetivos dos bombardeios, pouco explicitados no discurso de Obama - que alega que Kadhafi perdeu legitimidade e precisa sair - bem como, que não se sabe o que fazer, caso os EUA e aliados não consigam remover o coronel do poder.


A imprensa americana é assim mesmo. Quando Bush chamou pra si o papel de xerife do mundo, depois da tragédia do 11 de setembro, o adesismo foi total. Jornais, canais de televisão, rádios, sites, todos os meios de comunicação, reverberando o sentimento popular, apoiaram o castigo e a eliminação de Saddam Hussein. Não esqueço as chamadas da CNN na invasão do Iraque, que mais pareciam o anúncio de um show, ou de um programa de variedades, com direito a trilha sonora e um verdadeiro exército de repórteres envolvidos na cobertura. Era a guerra tecnólogica, em tempo real, mostrada sob todos os ângulos, com todos os detalhes, sons e imagens. Só faltava o cheiro.


Passado este primeiro momento, aparecem algumas vozes dissonantes, e os falcões batem em retirada dando lugar a uma outra linha, mais moderada, que pode ir até a completa negação de tudo que foi comunicado antes. Como o estado de espírito das pessoas muda com o tempo, quase ninguém percebe este movimento.

Pode-se dizer que a imprensa reflete e responde os sentimentos dos leitores/espectadores, mas, não é bem assim. A imprensa divulga o que vende, o que as pessoas querem ler/ouvir/assistir. É por isso que, tirando o jornalismo investigativo e as colunas de opinião, é preciso ter olhos e ouvidos bem abertos para o que chega até nós na forma de "notícia". Quando se diz que em uma guerra a primeira vítima é a verdade, deveria ser acrescentado, com a ajuda da imprensa. A maior parte do noticiário é pouco mais que lixo. Até os relatos são carregados de mensagens explícitas ou subliminares, contaminando até os editoriais.

Depois que o mundo árabe resolveu se revoltar com os respectivos governantes, a imprensa se lembrou de usar, sem o antigo pudor, os termos ditador, tirano, déspota, e outros adjetivos, normalmente reservados apenas para alguns africanos ou para o presidente da Coréia do Norte, Kim Jong-il. Este mesmo tratamento não precede citações a Hu Jintao, Fidel Castro, ou Hugo Chávez. E não é só nos EUA. Acontece por aqui e no resto do mundo.

Os acontecimentos da guerra civil em curso na Líbia padecem dessa mesma falta de isenção. Os fatos são apresentados unicamente para reforçar uma opinião negativa, esquecendo que os atores de mais este desastre humano são movidos unicamente por seus respectivos interesses, e não passam de contumazes mentirosos, inclusive os insurgentes.

Como já disse, nada a favor de Kadhafi, ou de qualquer desses títeres, que estão caindo como pinos de boliche. Por mim, quero se explodam, que vão pros quintos dos infernos, por tudo que fizeram e fazem com seus próprios concidadãos. O que me incomoda é esta volubilidade e o noticiário tendencioso e indecorosamente enganador.

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