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As escolhas das mulheres inteligentes(?)

Moro em um apartamento de fundos, porém, com diversas vantagens, entre elas a de não conviver com o ruído das ruas. Há um extensa área entre o meu prédio e os demais. Só para dar uma idéia, a distância para a janela mais próxima, em linha reta, é de aproximadamente, uns 90, 100 metros. Nesta área existem diversas árvores, altas, muito altas, acima do meu terceiro andar. E, frondosas, cheias, de um verde vistoso e bonito, durante a maior parte do ano.

O apartamento é amplo, com uma grande sala, 3 quartos, banheiro, lavabo, área, etc., mas é este "quintal", possivelmente, o que mais me agrada. Ali existe todo um ecossistema, com insetos, pássaros, frutos, e uma grande população de morcegos, além de outros pequenos que animais, que enchem de sons e movimento o ambiente, de dia, e à noite.

Esta "paisagem" inspira toda sorte de sentimentos, que vão desde a alegria de constatar que, apesar de toda a poluição e agressividade da cidade grande, a vida viceja, com toda a força, em qualquer lugar, bastando um pouquinho de condições; até a melancolia, nas noites mais escuras e quentes, muito comuns no Rio de Janeiro, de tantos contrastes, quando o vento sopra uma brisa suave, sacudindo os galhos das árvores, trazendo apenas um pouquinho do que restou de maresia, que até isso nos estão tirando.

Hoje, uma imensa lua cheia paira sobre a minha janela, tão brilhante que mais parece um holofote, ou um refletor, daqueles poderosos, do Maraca. O vôo nada cego dos morcegos em busca de alimento pode ser visto em toda a sua precisão e mistério, com um bater de asas vigoroso, rasgando o ar a velocidade impressionante, só suplantado em curiosidade pela visita de uma coruja, que se alojou em galho da árvore mais próxima a mim, ao que parece, para tornar mais interessante esta noite.

A calma deste lugar é quebrada, de vez em quando, de um jeito delicioso, pelas vozes de vizinhos, que tem o privilégio de morar em uma casa, localizada atrás do edifício ao lado do meu, reforçando ainda mais o clima de lugar de interior. Tudo isso, acreditem, em um local improvável, no coração de Copacabana, ao lado da avenida de mesmo nome.

Esta atmosfera lúdica, quase poética, me fez lembrar de um amor, de um passado não muito distante, que tinha muito para dar certo, e acabou não sendo como poderia ter sido, e até hoje não sei o por quê. Aliás, remeteu a outros pensamentos e, é claro, a muitas indagações, como a que vi, esta semana, na capa de um livro: "Por que mulheres inteligentes se apaixonam por homens idiotas?".

A autora - Lya Quadros - sustenta que uma causa é as mulheres nunca terem quebrado uma base cultural criada pelos contos de fada, que as leva a acreditar que, mesmo quando tudo indica que não, o romance pode dar certo. Em nome disso, enxergam só o que querem ver, a tudo perdoam, e perdem a perspectiva da realidade que as pessoas (aí incluídas as mulheres), estão cada vez mais egoístas, superficiais e insensíveis.

Eu acrescentaria que as mulheres tem uma especial queda por gostar de quem não gosta delas. Está em todos os manuais de conquista masculina que é preciso fazer com que ela se sinta destacada entre as demais, mas, que um certo desinteresse, é fundamental. A mulher também tem o espírito caçador e aprecia o sabor de uma presa, principalmente se ela se mostra evasiva ou passa a insegurança se ela é a "escolhida", ou não.

O problema é que a visão das mulheres é muito atrapalhada pelo sonho de um improvável amor perfeito, que raramente acontece, que as conduz, com alguma frequencia, a uma atitude de desespero. Para as que chegam a este ponto, a busca passa a ser por um homem que lhes dê atenção, porém, o primeiro, em geral, já serve. É comum, ao conhecerem um cara, no primeiro dia já irem para a cama com ele. Se ele tiver um cantinho onde possam transar, disser as palavras certas e/ou fizer algumas poucas coisas que representem um pouco de recompensa, logo vão achando que encontraram o amor de suas vidas.

Essa aceleração do processo faz com que muita coisa seja esquecida, e o necessário rigor e pé no chão, abandonados. Atração, química, hormônios e desejo superam valores, racionalidade, controle emocional, e o verdadeiro sentido de dar e receber afeto e amor. Não admira se encontrarem, no mais das vezes, tentando transformar idiotas em príncipes.

Há também as que seguiram em frente, juntaram as escôvas de dentes, e de repente se vêem em meio a relacionamentos com pessoas controladoras, agressivas, que não as fazem felizes e não lhes permitem crescer. Essas não foram capazes de avaliar as características de um homem antes de unirem seu destino ao dele. Não perceberam (muitas vezes, nem ligaram para) a atitude deles com os amigos; a sua visão de profissão, carreira e dinheiro; a sua capacidade de compartilhar, rir e jogar limpo; os seus vícios, preferências, aversões, valores, neuroses, e, principalmente, sua história com outras mulheres.

Ih, essa digressão já está indo longe demais, e não sei se conseguirei "amarrar" o pensamento. Mas, vamos tentar. Escolhas são para ser feitas, o que importa é a qualidade delas. Mais seletividade, melhores escolhas. Nos exemplos acima, normalmente se encaixam mulheres com cabecinha sonhadora, auto-estima em baixa, uma certa insegurança sobre o seu potencial e valor, algum desconhecimento sobre o que se deve dar e receber em um relacionamento, e uma boa falta de controle sobre si e sobre a própria vida. O que dizer pra elas? Que revejam seus próprios valores, abandonem o vitimismo, assumam as rédeas de seus caminhos e invistam pesadamente em se tornarem pessoas mais espiritualizadas, capacitadas e produtivas - seres humanos, no sentido mais amplo da palavra. Ser consciente, autônoma, livre, e responsável é, antes de tudo, uma maneira de viver a favor, e não contra, si própria. Não só ajuda a afastar o vazio interior, como contribui para se distanciar das relações movidas pela carência para as tornarem fruto da liberdade de escolha. E, para aquelas que, se encaixando ou não nos perfis, estão pensando em adotar o livro de cabeceira de uma certa BBB - "Deixe os homens aos seus pés", recomendo trocarem pelo título de Steven Carter, "Homens gostam de mulheres que gostam de si mesmas". Se não é a obra definitiva, pelo menos soa melhor.

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