Pular para o conteúdo principal

As contradições da imprensa


Dois acontecimentos de ontem no meio futebolístico ilustram como vale a pena, e é importante cuidar da imagem, mas, também, como o é, ainda mais, estar nas boas graças da imprensa.

Ao primeiro:

Ronaldinho Gaucho depois do jogo contra o Botafogo foi comemorar a importante vitória caindo no samba até alta madrugada. No dia seguinte, ontem, junto com a presidente, Patricia Amorim, e o técnico, Vanderlei Luxemburgo, compareceu à Academia Brasileira de Letras (ABL) na comemoração dos 110 anos de nascimento do romancista José Lins do Rêgo, flamenguista roxo, com direito a medalha e outros rapapés.

O outro:

Depois de ter ganhado uma semana para tratar de problemas particulares no Rio, o meio-campo Carlos Alberto se reapresentou ao Gremio nesta segunda-feira, e acabou se estranhando com a imprensa local por causa de especulações, surgidas durante sua ausência, sobre uma briga com um companheiro no vestiário do clube.

Fatos:

Desde seu retorno ao Brasil, o comportamento de Ronaldinho Gaúcho tem sido exemplar, em todos os aspectos: esforço, dedicação, entrega, comprometimento, entrosamento, humildade, espírito de equipe, liderança, educação, são pouco para descrever a atuação do craque dentro e fora das quatro linhas, onde, até o gosto pelo legítimo samba carioca é motivo de elogios e louvações.

Carlos Alberto, conhecido encrenqueiro, desde os tempos de Fluminense, cedido por empréstimo pelo Vasco em troca do não menos polêmico Leandro, está no Grêmio desde fevereiro e com menos de 2 meses de trabalho já foi liberado pela diretoria do clube, e a concordância do técnico Renato, para tratar de problemas pessoais, no Rio, sob rumores que, na verdade teria havido uma briga entre o técnico e o jogador.

Comento:

É inegável que Ronaldinho com a fama que trazia da Europa foi uma grata surpresa, até pra mim, que esperava muito menos dele, que se envolvesse tanto, e tão profundamente no projeto rubro-negro, demonstrando profissionalismo excepcional e até mesmo genuína paixão pelo novo clube, que (quase) tudo lhe é permitido. As noitadas e o birináite (ainda que leve) não são considerados falta grave, e as atuações ainda pouco convincentes, embora relativamente produtivas, ainda estão caindo na "aquisição de entrosamento".

Ele está fazendo por onde, mas não tem como negar, também, que está tudo, e todo mundo, a favor: - desde a diretoria que o contratou, os colegas jogadores, os torcedores, os comentaristas da TV, até os jornalistas de beira de gramado e os que cobrem o dia a dia dos clubes. Uma autêntica lua-de-mel. Ninguém fala mal do cara.

Já o proscrito CA, que coleciona desafetos na imprensa e nos lugares por onde passa, apesar de não ser um craque com a folha corrida e os serviços prestados ao futebol no mesmo nível que o colega rubro-negro, me parece uma pessoa em transformação, e merecedora de um tratamento respeitoso, principalmente por parte dos que ganham dinheiro (e até notoriedade) do espetáculo que ele proporciona. Mas não é assim que acontece.

A última que o pobre se meteu foi com um certo jornalista do Zero Hora, de POA, que em vez de exercer o seu papel de repórter preferiu fazer o de xereta, e com ilações e provocações tirou o Carlos Alberto do sério.

Como sempre, dois pesos, duas medidas. Claro que são situações, pessoas, locais, culturas, tudo diferente, mas, uma coisa se destaca: quem começa, é sempre o repórter. Isto é inegável. Não sei se lá pelo sul essa coisa de tomar conta da vida dos outros é mais exacerbada - o cheiro do pé do atleta talvez importe mais do que o que ele faz com ele - mas, é fato que esse tipo de coisa não acontece tanto no eixo Rio - São Paulo. A mentalidade mais provinciana, mais tacanha, mais retrógrada, provavelmente é a responsável pela preocupação desse tipo de homem de imprensa com temas como este, ou pelas atitudes provocativas como a que teve o tal Luis Henrique Benfica, para quem, por pouco não sobraram umas boas porradas, que não seriam, a meu ver, de todo mal aplicadas.

A imprensa escrita, falada e televisada precisa saber até que ponto pode ir ao tratar da privacidade das pessoas, e cuidar para não fazer provocações desnecessárias. Muitos, como esse engraçadinho do Zero Hora, se preocupam mais com coisas que não dizem respeito nem a ele, nem a ninguém, mostrando que não passam de homens de terceira categoria, já que o termo profissional nem lhes pode ser atribuido. Quando levam um chega-pra-lá, ou recebem uma lição daquelas pra não esquecer, são os que mais gritam. É como eu sempre digo: - não mexe com quem tá quieto

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Voltando devagar

Dois anos depois, senti vontade de voltar a escrever. Já havia perdido um bocado do entusiasmo, me sentindo incapaz de produzir algo interessante, que valha a pena ser lido, sentimento que pouco mudou. O que mudou foi o jeito como estou começando a ver as coisas. Outro dia, li algo que me chamou a atenção, tipo: "A arte não é para o artista mais do que a água é para o encanador”. E continuava, "Não, a arte é para quem a absorve, mesmo que o artista nem sempre tenha plena consciência do quanto isso é verdade. Pois sim, na verdade, a maioria dos artistas que ainda decidimos considerar entre “os grandes” estavam fazendo isso para fins em grande parte masturbatórios, em oposição à pura motivação de “querer criar algo para os outros." Aparentemente, trata-se de uma fala de um personagem de filme. Ainda estou por checar. Definitivamente, o que faço aqui não é arte, não tenho essa pretensão, no entanto, essa é sem dúvida uma questão estranha sobre a arte como um conceito, que a...

Perda irreparável

Na terça-feira passada, 17, fui surpreendido com uma das piores notícias da minha vida - um dos amigos que mais gosto, um por quem tenho enorme admiração, um irmão que a vida me deu, havia deixado este mundo. A notícia não dava margem a dúvidas. Era um cartão, um convite para o velório e cremação no dia seguinte. Não tinha opção, a não ser tentar digerir aquela trágica informação. Confesso que nunca imaginei que esta cena pudesse acontecer. Nunca me vi  nesta situação, ainda mais em se tratando do Sylvio. A chei que  ele estaria aqui pra sempre. Que todos partiriam, inclusive eu, e ele aqui ficaria até  quando ele próprio resolvesse que chegar a hora de descansar. Ele era assim,  não convencional e suspeitei que, como sempre fez, resolveria também  essa questão. Hoje em dia, com a divisão ideológica vigente e as mudanças nos códigos  de conduta, poucos diriam dele: que cara maneiro! M esmo os que se surpreendiam ou não gostavam de algumas de suas facetas, c...

História do Filho da Puta

John Frederick Herring (1795 - 1865) foi um conhecido pintor de cenas esportivas e equinas, na Inglaterra. Em 1836, o autor do famoso quadro "Pharaoh's Charriot Horses", avaliado em mais de $500.000, acrescentou "SR" (Senior) à assinatura que apunha em seus quadros por causa da crescente fama de seu filho, então adolescente, que se notabilizou nessa mesma área. Apesar de nunca ter alcançado um valor tão elevado, um outro de seus quadros tem uma história bastante pitoresca. Em 1815, com apenas 20 anos, Herring, o pai, como era tradição, imortalizou em um quadro a óleo o cavalo ganhador do St Leger Stakes, em Doncaster, na Inglaterra. Até aí, nada de mais. A grande surpresa é o nome do animal: Filho da Puta! É isso mesmo. Filho da puta. Há pelo menos três versões sobre a origem desse estranho nome. A que parece mais plausível (e também a mais curiosa), dá conta que o embaixador português na Inglaterra, à época, era apaixonado por turfe e também por uma viúva com q...