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Ibsen - inimigo nº 1 do Rio


Separados no nascimento


O deputado Ibsen Pinheiro acaba de se tornar o inimigo público número 1 do Rio de Janeiro. Além de aprovar um projeto estapafúrdio, repleto de inconstitucionalidades, apareceu no Jornal Nacional declarando que os cariocas não sabem o que fazem. De uma só tacada desqualificou o protesto contra a emenda que ontem reuniu, segundo a PM, mais de 150 mil pessoas no centro do Rio, comparando-o à passeata dos cem mil, e ainda desancou os cariocas, prevendo que ficaremos sem nada.

Em primeiro lugar, Ibsen comete uma imbecilidade histórica: a Passeata dos Cem Mil não foi de apoio à revolução de 64, como sugeriu, e sim, contra o governo militar, tendo sido organizada em 68, pelo movimento estudantil, com apoio de artistas, intelectuais (eu detesto essa classificação. Afinal, você conhece alguém que se identifica como intelectual? "Prazer, sou um intelectual". Que imbecilidade!) e setores da sociedade. O gaúcho idiota, que já teve o mandato injustamente cassado em 1994, no escândalo dos Anões do Orçamento, confundiu com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, nome dado a uma série de manifestações populares em repúdio ao comunismo no Brasil, realizadas em resposta ao programa de reformas de base que Jango divulgou em março de 1964. A maior manifestação anti-comunista, na verdade, ocorreu em São Paulo, reunindo cerca de 400 mil pessoas, em 19 de março. Em 2 de abril daquele ano, o Rio assistiu à Marcha da Vitória, a favor da deposição do preisdente, que levou às ruas cerca de um milhão de pessoas, e não teve nada a ver com apoio à ditadura, e sim contra Fidel, Jango, Brizola e o resto da canalha esquerdista da época.

Pra falar a verdade, não apoiei o oba-oba que Cabral e sua turma fizeram por causa do projeto de Ibsen. Esse negócio de "covardia", caravanas arregimentadas no interior, shows, artistas, faixas pela cidade toda, até no Flamengo e Vasco, me cheirou muito mal. Pra mim não passou de oportunismo político e um jeito de muita gente ganhar dinheiro e prestígio pelas trapalhadas de um otário como Ibsen. E a razão é de uma simplicidade franciscana: - a emenda de Ibsen não vale nada. Desde o começo, todo mundo sabe que mexer na distribuição dos royalties é um vespeiro, pelos valores envolvidos, e uma impossibilidade, por tudo que está previsto na Constituição, que garante a prerrogativa dos estados produtores sobre a produção de petróleo em "suas" águas. A receita do óleo é um direito adquirido pelo estado e qualquer estudante de Direito de 3º ano sabe que isso não se muda com uma canetada da tchurma de Brasília.

De uma coisa o Serginho Cabral não pode ser acusado: de bobo e falta de visão política. Assim que se confirmou a decisão desastrada do Congresso, ele logo farejou que só tinha a ganhar com isso. Dissolveu-se em lágrimas, convocou os marqueteiros, organizou a máquina partidária e chamou a mídia para o trabalho de divulgação da "covardia" com o Rio. Lula, que não é trouxa, deu o recado lá da Jordânia "eu disse que não era pra votar os royalties neste ano eleitoral. Esta é uma época onde todo mundo quer fazer gracinha". A quem ele se referia? Ao Ibsen? Claro que não. Era ao lambe-botas mór, Sérgio Cabral Filho, que com um lance perfeito amealhou capital político para as próximas eleiçoes e, de quebra, sepultou as aspirações de quem pensava em se candidatar a governador, assumindo o papel de campeão da defesa do estado. Parabéns! Grande jogada!

Ibsen é apenas um zé-mané. Com seu aspecto de canceroso (espero que não esteja doente) e jeitão Leslie Nielsen, quer fechar esta última passagem pelo Congresso Nacional com algo pra contar. Aquela coisa de biografia, sabe como é? Acabou no papel de um idiota útil para o governante de ocasião do Rio. Será que tava tudo combinado?

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