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Veríssimo defende o indefensável

Noite passada encontrei uns amigos para uma sinuca, na Lapa. Por causa disso, não deu tempo de comentar o artigo de Luis Fernando Veríssimo desta quinta-feira, 21/1, onde tenta, com a candura das professoras do interior, um punhado de mentiras e outro tanto de má-fé, desqualificar as críticas ao PNDH-3, fazendo crer que o monstrengo não passa de uma versão atualizada dos anteriores e não tem uma cara tão feia assim.

O baixinho, como sabemos, é um comunista que gosta do luxo. Paris, pra onde viaja em companhia de sua mulher, Lucia, é um destino frequente, bem como os Estados Unidos, onde morou na infância e adolescência. Ele faz o tipo radical chique. O intelectual rico, que não abandona o ideário marxista. Num regime totalitário que seria do seu gosto, ele seria parte da nomenklatura, para poder continuar desfrutando do consumo de alto padrão, sem o qual não sobreviveria.

Embora longe do brilho do pai, Érico, Luis Fernando ficou conhecido por suas crônicas e contos de humor. O artigo, contudo, não tem as gracinhas habituais, e chama a atenção a afirmação inicial de que só leu do plano "fragmentos, nos jornais", o que a priori o desqualifica a tecer comentários. Penso que ele diz isso para desviar a atenção do fato de que o plano serve de guarda-chuva para um caudal de projetos onde tudo cabe, alguns deles em claro confronto com a Constituição.

Veríssimo finge ignorar que a versão dos ex-terroristas Paulo Vannuchi e Franklin Martins, elaborada sob os olhos de Tarso Genro, com o beneplácito da candidata a presidente-laranja Dilma Roussef, e as bençãos de Ali Blá-blá, muito além dos direitos humanos, sob o manto da "transversalidade", "intersetorialidade" e "intergeracionalidade", seja lá o que isso queira dizer, contrabandeia para o tema a revogação da Lei de Anistia, livrando os que pegaram em armas contra a Revolução; solapa a justiça retirando o direito cautelar dos juízes; facilita e estimula as invasões, no campo e nas cidades, virtualmente cancelando o direito à propriedade; propõe a descriminalização do aborto; promove o amordaçamento da imprensa e a possibilidade de cassação de concessões por razões editoriais, e last but not least, inclui a fiscalização de pesquisas de biotecnologia e nanotecnologia.

É evidente que o sagaz escritor nada disso ignora. Como seus parâmetros morais são os do PT, ele tenta dourar a pílula, mentindo, escamoteando, e num sofisma chega a dizer que "não há discrepâncias entre as propostas [do plano] e o que está em discussão, hoje, no resto do mundo civilizado". Dá pra notar que o cara é um piadista, mesmo. Que mundo civilizado é este, cara-pálida?! Nem na França, que ele tanto admira, afeita a teses exóticas, qualquer iniciativa no sentido de limitar a liberdade de imprensa sequer seria levada em consideração.

O discurso segue na linha de desqualificar os opositores, chamando-os de retrógrados. Em um trecho ele diz "a descriminalização do aborto e o casamento de gays são debates modernos", em outro "a proibição de símbolos religiosos em repartições públicas...não deveria melindrar a ninguém, pelo menos não neste século". De todos os crimes contra a vida, o aborto é o mais covarde. Os meios empregados são cruéis e o ofendido, indefeso. Não há o que discutir. Não há modernismo em se criar condições para que este ato seja legalizado. A questão não é dar à mulher o direito de dispor de seu corpo como bem entender. O que se defende é o direito do feto de vir a nascer. O aborto não tem aprovação nem de 10% da população brasileira. Não se pode sequer falar em divisão de opiniões. Atrasado é Luis Fernando Veríssimo, que já deveria ter abandonado teses superadas como esta. Nem vou comentar a questão dos gays e crucifixos porque isso pra mim está ali como boi de piranha.

O resto do artigo é só mistificação, mas não se priva de defender o controle da mídia, que o emprega e paga régiamente, e a revisão da anistia, que conforme o desejo dele, seria apenas do envolvimento dos militares,

A verdade é que para quem tem intenção de divertir, LFV fala demais, e do que não sabe. Cai-lhe melhor o papel de bobo da corte, não o de comentarista político. Sugiro que comece a escrever sobre vinhos, passeios a Versalhes, cozinha francesa, assuntos que lhe são mais apropriados.

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