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Virada espetacular do Fla


Como gosta de lembrar um botafoguense amigo meu, citando Nelson Rodrigues, "O primeiro Fla x Flu surgiu 10 minutos antes do nada, e escorria gente pelas paredes".

É verdade. Só pode ser, tal é a paixão e a rivalidade que cercam o maior clássico do futebol brasileiro. Há divergências quanto ao tempo. Uma rápida busca na internet mostra que uns dizem que foi 5 minutos, outros, 10, e houve ainda quem dissesse que foram 40 minutos! Esse número, eu não compro. É um número sem qualquer relação com nada. Não existem jogos de 40 minutos de duração, 40 minutos é muito para algumas coisas, e pouco para outras, enfim, não me convenceu. Não bastasse isso, 40 não parece saído da cabeça do Nelson Rodrigues. Fico, então com os 10 minutos do meu amigo.

O confronto, no Engenhão, dos maiores protagonistas do futebol carioca, fez juz a essa imagem que o grande Nelson criou, mas foi só na emoção. O resto, a começar pelo "palco", foi de uma pobreza "franciscana". Os dois shows do "astro" teen, que na verdade parece que não canta, Justin Bibber, estragaram completamente o gramado, como era previsível, acontecer. À propósito, eu gostaria de dizer que enquanto não inventarem algo que proteja os gramados dos estádios de futebol, não deveriam os mesmos ser liberados para shows, cultos, ou seja lá o que for. O resultado é, sempre, desastroso.  E só quem perde, é o futebol. Nesse sentido, embora os dois times tenham sido igualmente prejudicados, perde também o espectador, que vê um festival de passes errados, jogadas bizonhas, além de tropeções e quedas, que só enfeiam o jogo. Voltando ao que interessa, a segunda parte da frase de Nelson, que o meu amigo, provavelmente, não conhece, pois não cita, foi o que de menos fiel aconteceu no clássico desta tarde. Pouco mais de 21.000 pagantes no Engenhão, que proporcionaram a ridícula renda de R$ 600.000,00, dão mostra de como o carioca está abandonando as suas tradições e o futebol já não desperta o interêsse das massas, que outrora fazia gente "escorrer pelas paredes" do Maracanã.

Alguns poderão culpar a passeata gay de Copacabana, embora eu ache uma sacanagem com os tricolores, pois lá deveria ter também vascaínos e botafoguenses, além de são-paulinos e gremistas; outros dirão, que a transmissão direta nos bares e residências está tirando o público dos estádios, e ainda haverá quem diga que o futebol está tão ruim, que mesmo uma disputa crucial, entre o quinto e o sexto colocados, cujo resultado poderia catapultar, como fez, um dos dois para a quarta posição, pertíssimo do líder, não é mais capaz de fazer com que os pais levem seus filhos ao estádio para torcerem pelo seu time de coração.

Acho que aí, todo mundo tem um pouco de razão (excluindo o negócio da passeata gay, hhehee) - e os principais culpados são os bares. Eles estão, de fato, substituindo os estádios, com telões, chopp, tira-gosto, salgadinhos, garçons atenciosos, e todo um conforto que, dificilmente, se tem nos templos do futebol, onde até beber uma cerveja como deve ser bebida, ou seja, em copo de vidro, é proibido. Além disso, tem os amigos, os conhecidos, os desconhecidos, formando uma legião de gente que se junta para uma breve e fugaz diversão, e o prazer de torcer. Seja em um pé-sujo ou num bar de gente fina no Leblon, no final de semana, podem contar que, no horário dos jogos, haverá clientes de sobra, todo mundo ávido para assistir o jogo na telinha, tem até geral, que é o pessoal que não consegue mesa e fica, de longe, em pé, assistindo (e consumindo, claro).

Um outro problema é o Engenhão; além de uma localização e redondeza péssimos, que nada oferece, a não ser a ameaça de você ter o carro quebrado, o próprio estádio não favorece a realização de grandes eventos. As pessoas temem alguma coisa, está no inconsciente coletivo, sei lá.

Estaremos, então, assistindo ao fim da massa nos estádios? Eu espero que não. O Maracanã há de voltar, embora com cara de estádio FIFA, mas há de voltar, em toda a sua pujança e majestade, para abrigar os grandes jogos do futebol brasileiro, que tanta alegria e orgulho já deram aos cariocas. Não afirmo que isso esvaziará os bares, mas, que terá mais gente pra assistir aos jogos, isso terá. Se Deus quiser...

Pra encerrar, finalmente o argentino Bottinelli disse ao que veio fazer no Fla: protagonizar a virada sensacional de mais um clássico contra o Flu. Parabéns, Botti! Parabéns ao Fla, que mesmo sem o Ronaldinho Gaúcho venceu, e parabéns ao Luxemburgo, que já podia ter tirado o Diego Maurício e Deivid, que nada fizeram. Muito bom!

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