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Linchamento moral é o que melhor eles sabem fazer

Estou impressionado com o linchamento público que as polícias, mineira e carioca, com o apoio da imprensa, como sempre sensacionalista, estão fazendo com o goleiro Bruno, do Flamengo.

O delegado mineiro, Edson Moreira, que tem a cara e o jeito de falar daquela personagem João Plenário, interpretado pelo ator Saulo Laranjeira no "A praça é nossa", atrás dos seus 15 minutos de fama, já deu pelo menos umas 20 entrevistas onde, sem qualquer prova concreta, apenas com a ressalva que fala "segundo relatos", faz ilações, conta histórias fantasiosas, oferece à sociedade versões onde Bruno estaria presente no momento do pretenso esquartejamento de Eliza Samudio, bebendo cerveja, e, coroando a sua atuação tosca, atribui ao suspeito do assassinato, Marcos Aparecido, o Neném, durante suposta tortura da jovem, frase digna dos piores momentos da crônica policial: "você não vai mais apanhar, você vai morrer". Parece roteiro de filme C. Duro é perceber que o delegado quer, a qualquer custo, o papel de astro da produção.

Esta tática diversionista e perversa da polícia não é inédita, nem incomum, e busca jogar a opinião pública contra o suspeito, desconstruindo a sua imagem, enquanto o trabalho investigativo não chega a lugar algum: não há corpo, o primeiro local apontado como o da concretagem da jovem já virou queijo suiço e nenhum vestígio dela foi encontrado, um segundo local nada revelou, os depoimentos são contraditórios e inconclusivos, ainda não se apresentou qualquer evidência consistente da autoria, da mecânica, nem da materialidade do eventual crime. Ou seja, suposições, suposições, e suposições - uma autêntica peça de ficção.

É este péssimo trabalho da polícia uma das principais causas da sensação de impunidade que existe no país. Investigação não existe, os casos arquivados lotam as delegacias e, no mais das vezes, o Ministério Público é destino de documentos que mais se assemelham a lixo: as provas oferecidas são frágeis, muitas vezes colhidas de maneira irregular e ilegal, o inquérito é mal fundamentado, viciado e incompleto, o que permite a qualquer advogadozinho de porta de cadeia derrube a denúncia, com extrema facilidade. Não tenham dúvida: - a notória incompetência dos nossos policiais e técnicos forenses é, possivelmente, uma das maiores mazelas do país. Mesmo a PF, que se diz eficiente, só resolve 20% dos casos a ela oferecidos, o que é uma verdadeira piada. O resultado prático dessa mixórdia é que a imensa maioria dos autores de crimes fica sem a devida censura penal.

E não adianta dizer que as condições de trabalho dessa gente não são favoráveis, que o material é precário, ou que a mão de obra é insuficiente. O que falta mesmo é preparo, qualificação, capacidade e, principalmente, formação e inteligência. A polícia é MUITO ruim. Sob qualquer ponto de vista, inclusive, no sentido de serem maus, corruptos, lenientes e, muitas vezes, piores que os bandidos. Só perdem, talvez, para os políticos.

Até o momento, o que temos é o seguinte: a principal testemunha é um menor, cujo depoimento pode ser não apenas contestado, como anulado, por falhas processuais, tirando a sustentação do inquérito; os indiciados não tem acesso ao material de acusação, contrariando o amplo direito de defesa; e a narrativa da polícia mais se assemelha a uma novela mexicana de baixo custo e enredo comprado na esquina.

Por outro lado, analistas de todas as cores e matizes, feministas, sociólogos, militantes e toda sorte de "autoridades", cinicamente, sem qualquer embasamento, classificam o jogador de psicopata, agressivo, de ser alguém que se vê acima do bem e do mal. Até a Monica Waldvogel, no "Entre aspas", da Globo News, questinou seus entrevistados se a atitude de Bruno diante do caso, não seria algo a ser levado em conta na formulação do inquérito. Meu Deus! Que asneira, que festival de absurdos! O que ela queria? Que o delegado fizesse carga contra o acusado por ele demonstrar uma suposta insensibilidade? Isso deveria aumentar-lhe a pena, caso condenado? Quanta ignorância! Não vale nem a pena reproduzir o que responderam os "especialistas". Me pergunto como é que a Globo dá espaço para uma energúmena dessas?

Que fique claro que está longe de mim me arvorar a defensor do Bruno. Não faço idéia se ele foi, ou não, capaz de engendrar essa ópera macabra. Mas não posso deixar de dizer que, daqui do meu cantinho, por enquanto, o que vejo é um cidadão acossado, cujo pressuposto deveria ser o de que é inocente, acusado impiedosamente sem provas, exposto a vexames, contrangimentos e escândalos, sendo cerceado na maioria de seus direitos constitucionais e tendo o seu nome e reputação jogados na vala comum, de maneira cruel e sistemática, por toda a imprensa, lida, falada e televisada. Não gostaria de estar na pele dele.

O que eu queria? Que a investigação fosse feita longe dos holofotes, e que, de acordo com os trâmites legais, sob o manto da eficiência e da qualidade, se produzisse um libelo acusatório, caso o ilícito fosse comprovado, que não permitisse, em hipótese alguma, que os autores escapulissem de uma condenação. Ou, não havendo culpa, que os acusados fossem liberados, na forma da lei. Isto é, menos barulho, e mais resultado. Só isso.

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