Testemunhar as espetaculares mudanças por que passou a criação de software é, talvez, a melhor parte desses mais de 30 anos de trabalho.
Meu primeiro contato com computador, linguagem de programação e a parafernália tecnológica da época aconteceu na faculdade de engenharia, quando aprendi um pouco de FORTRAN. Fiquei maravilhado. Pena que foi a única cadeira ligada ao assunto de todo o curso e só voltei a me encontrar com esse mundo em 75, quando fui apresentado ao Assembler e ao Cobol.
Em seguida, através de um amigo, com quem jogava xadrez, obtive um posto de estagiário em uma das maiores multinacionais do ramo. Era o segundo maior fabricante de computadores do mundo. Um misto de curiosidade e prazer me moveram a partir daí.
Naquele já longínquo 1976, quando comecei de verdade, tudo era muito diferente: o nosso cotidiano era pontuado de réguas de fluxogramas, definições de programas, cartões perfurados, digitadores, gabarito de impressão, e um monte de instrumentos e termos hoje em completo desuso. Tudo era difícil, e sobretudo demorado.
Certa feita, participei de um projeto que envolvia trazer para o Brasil um minicomputador, batizado UTS-700, que afinal não decolou, nem nos EUA. O curioso é que eu tinha a missão de aprender tudo sobre o bicho e não dispunha de um para me familiarizar. A fábrica era no Canadá e eu fazia testes à distância. Não, não existia internet, tampouco facilidades de comunicação. Eu escrevia o código, perfurava um "bolo" de cartões e mandava pelo malote para ser "submetido" ao compilador. Invariavelmente, cerca de um mes ou mais depois, recebia uma listagem com os erros gerados. A correção levava alguns minutos e, em seguida partia um novo conjunto de cartões para outra compilação. O estudo não avançava, apesar da minha dedicação e extensa produção de material para teste. Não precisa dizer por que tal projeto fracassou.
Naquele tempo o COBOL reinava absoluto no mundo da "programação comercial". Eu havia me destacado usando Assembler e Fortran, mas me especializei em COBOL para atender às exigências do mercado. Meu primeiro "filho" foi um sistema de folha de pagamentos que rodava em um Siemens que ocupava uma sala inteira e tinha uma capacidade hoje superada por qualquer maquininha caseira. A história desse "parto" vale a pena, mas só vou contar depois.
Antes, tem uma outra curiosidade que gosto de contar. Há um certo tempo, a empresa que me contratou lançara perfuradoras de cartão programáveis, avançadíssimas para a época, e fui incumbido de treinar clientes e dar suporte quando necessário. Ou seja, atividade típica mesmo de estagiário. Meu primeiro dia como professor foi um total desastre. Depois de ser apresentado à turma, bateu uma "paúra" e eu só conseguia falar voltado para o quadro, escrevendo e dando explicações a uma velocidade espantosa. Em menos de 20 minutos, eu já tinha coberto quase todo o programa da aula. Foi quando um dos alunos levantou-se, bateu nos meus ombros ainda trêmulos e com imensa dificuldade, num sussurro pediu: "Dá pro senhor falar de frente pra nós? Aqui, somos quase todos, surdos-mudos". Quase caí pra trás! E ele, com calma, me tranquilizou: "nós fazemos leitura labial. Basta que o senhor esteja virado pra nós". Hehehe...por pouco, não fui embora. Aí eu pensei: "se eu passar por essa, pode vir o que fôr que eu enfrento". Sofri um bocado. Mas fui adiante. A turma colaborou muito. Compreenderam que eu estava apenas começando. E, no final, acabou dando tudo certo. De fato, de lá pra cá, nunca mais parei de dar aulas, treinamentos, palestras, seminários. Foi uma prova de fogo, mas valeu a pena.
Apenas para esclarecer, eles eram surdos-mudos porque trabalhavam em locais que as empresas chamavam de pool de digitação, onde havia um ruído ensurdecedor das perfuradoras de cartões, muitos com até 200 estações de trabalho, e então, nada mais apropriado do que contratar quem não sofreria com essas condições. Foram muitas turmas que treinei, mas não. Não aprendi a linguagem dos sinais.
Meu primeiro contato com computador, linguagem de programação e a parafernália tecnológica da época aconteceu na faculdade de engenharia, quando aprendi um pouco de FORTRAN. Fiquei maravilhado. Pena que foi a única cadeira ligada ao assunto de todo o curso e só voltei a me encontrar com esse mundo em 75, quando fui apresentado ao Assembler e ao Cobol.
Em seguida, através de um amigo, com quem jogava xadrez, obtive um posto de estagiário em uma das maiores multinacionais do ramo. Era o segundo maior fabricante de computadores do mundo. Um misto de curiosidade e prazer me moveram a partir daí.
Naquele já longínquo 1976, quando comecei de verdade, tudo era muito diferente: o nosso cotidiano era pontuado de réguas de fluxogramas, definições de programas, cartões perfurados, digitadores, gabarito de impressão, e um monte de instrumentos e termos hoje em completo desuso. Tudo era difícil, e sobretudo demorado.
Certa feita, participei de um projeto que envolvia trazer para o Brasil um minicomputador, batizado UTS-700, que afinal não decolou, nem nos EUA. O curioso é que eu tinha a missão de aprender tudo sobre o bicho e não dispunha de um para me familiarizar. A fábrica era no Canadá e eu fazia testes à distância. Não, não existia internet, tampouco facilidades de comunicação. Eu escrevia o código, perfurava um "bolo" de cartões e mandava pelo malote para ser "submetido" ao compilador. Invariavelmente, cerca de um mes ou mais depois, recebia uma listagem com os erros gerados. A correção levava alguns minutos e, em seguida partia um novo conjunto de cartões para outra compilação. O estudo não avançava, apesar da minha dedicação e extensa produção de material para teste. Não precisa dizer por que tal projeto fracassou.
Naquele tempo o COBOL reinava absoluto no mundo da "programação comercial". Eu havia me destacado usando Assembler e Fortran, mas me especializei em COBOL para atender às exigências do mercado. Meu primeiro "filho" foi um sistema de folha de pagamentos que rodava em um Siemens que ocupava uma sala inteira e tinha uma capacidade hoje superada por qualquer maquininha caseira. A história desse "parto" vale a pena, mas só vou contar depois.
Antes, tem uma outra curiosidade que gosto de contar. Há um certo tempo, a empresa que me contratou lançara perfuradoras de cartão programáveis, avançadíssimas para a época, e fui incumbido de treinar clientes e dar suporte quando necessário. Ou seja, atividade típica mesmo de estagiário. Meu primeiro dia como professor foi um total desastre. Depois de ser apresentado à turma, bateu uma "paúra" e eu só conseguia falar voltado para o quadro, escrevendo e dando explicações a uma velocidade espantosa. Em menos de 20 minutos, eu já tinha coberto quase todo o programa da aula. Foi quando um dos alunos levantou-se, bateu nos meus ombros ainda trêmulos e com imensa dificuldade, num sussurro pediu: "Dá pro senhor falar de frente pra nós? Aqui, somos quase todos, surdos-mudos". Quase caí pra trás! E ele, com calma, me tranquilizou: "nós fazemos leitura labial. Basta que o senhor esteja virado pra nós". Hehehe...por pouco, não fui embora. Aí eu pensei: "se eu passar por essa, pode vir o que fôr que eu enfrento". Sofri um bocado. Mas fui adiante. A turma colaborou muito. Compreenderam que eu estava apenas começando. E, no final, acabou dando tudo certo. De fato, de lá pra cá, nunca mais parei de dar aulas, treinamentos, palestras, seminários. Foi uma prova de fogo, mas valeu a pena.
Apenas para esclarecer, eles eram surdos-mudos porque trabalhavam em locais que as empresas chamavam de pool de digitação, onde havia um ruído ensurdecedor das perfuradoras de cartões, muitos com até 200 estações de trabalho, e então, nada mais apropriado do que contratar quem não sofreria com essas condições. Foram muitas turmas que treinei, mas não. Não aprendi a linguagem dos sinais.
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