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Cela 13, por Denis Lerrer Rosenfield


Qualquer cidadão, por mais desatento que seja, fica estarrecido com o destino do PT. Um destino político que se tornou policial. Não há qualquer dificuldade em fazer uma reunião da cúpula petista no xilindró! Lá já estão ex-ministros, tesoureiros, líderes partidários e assim por diante. Outros já estão na fila, o que irá completar esse quadro da derrisão.

A verborragia da “perseguição política” e do “golpe” nada mais é do que uma tentativa desesperada dos que não foram ainda condenados ou presos, procurando, assim, escapar de um encarceramento iminente. Os que acreditam em tal palavreado mais se parecem com religiosos que se apegam a dogmas. Seriam dignos representantes da religiosidade petista e comunista. O partido da “ética na política” tornou-se o símbolo mesmo da imoralidade e da corrupção.

Cabe, então, uma pergunta. Como pode ter esse partido, que se anunciou como o da redenção nacional, ter caído tão baixo?

Talvez seja um equívoco conceitual considerar o PT como um partido social-democrata, do gênero dos partidos europeus que, tendo começado com o marxismo, enveredaram para uma ótica de transformação social do capitalismo, no amplo reconhecimento da economia de mercado e do estado democrático de direito. Embora algumas mentes mais lúcidas do partido tenham tentado impor essa nova visão, ela não terminou prevalecendo, dada a animosidade partidária em relação à propriedade privada, à economia de mercado, à liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral e à democracia.

Não é suficiente considerar as medidas sociais tomadas pelo PT quando no exercício do poder como sendo essencialmente social-democratas, dado que a própria experiência europeia mostra que os partidos democrata cristãos na Itália e Alemanha, além da direita francesa com De Gaulle, seguiram uma política semelhante. Aliás, muitas medidas sociais, por exemplo na Inglaterra, nasceram das consequências sociais posteriores à Primeira Guerra, no cuidado de órfãos, viúvas e idosos.

Há uma certa tentativa ainda em curso no país de salvar a concepção de esquerda das consequências dos governos petistas. É curioso, pois é como se a ideia de esquerda fosse imaculada, desde sempre válida, o problema consistindo, então, em sua má realização. Ora, trata-se de uma ideia fundamentalmente religiosa, dogmática, pois a experiência histórica mostra que as realizações das ideias de esquerda culminaram no totalitarismo, no desastre econômico-social, em políticas liberticidas, quando não no assassinato coletivo de milhões de seus cidadãos.

No Brasil, ela está acabando na prisão. Dos males, o menor, pois o país tem uma chance de revigorar a sua mentalidade, a sua concepção, e empreender um novo caminho. O que não pode — nem deve — é permanecer numa mera repetição histórica.

Analisemos alguns dos fatores do malogro petista, tendo presente que não estamos diante de nenhum acidente de percurso, mas de algo inerente a esta lógica esquerdista. A corrupção seria um elemento central desta.

Primeiro. O intervencionismo dos governos Dilma e Lula, em seu segundo mandato, origina-se de uma profunda desconfiança em relação à economia de mercado, à propriedade privada e à livre iniciativa. Tudo foi feito para limitar a vida dos empreendedores, salvo para aqueles grandes grupo empresariais e financeiros que se aliaram ao assalto do Estado e aos seus “benefícios”. As bases da corrupção já se faziam presentes tanto na alocação de recursos quanto na necessidade dos empresários comparecerem aos balcões da propina. As delações bem mostram o compadrio entre eles.

Segundo. O PT considerou o lucro como algo moralmente negativo, algo a ser evitado, devendo os membros partidários se apresentarem como as encarnações do bem, por mais falsa que fosse essa representação. O lucro deveria ser controlado por uma elite burocrática partidária, imbuída do esquerdismo de suas concepções.

Terceiro. Ora, se o lucro era desprezível, qualquer medida para combatê-lo seria justificável, inclusive a de extorquir empresários para dele compartilharem. Ou seja, se o lucro não era legítimo, a propina e a corrupção enquanto formas de partilha seriam justificáveis, sobretudo se feita em nome do partido. Note-se que, até hoje, o partido considera como válida a distinção entre corrupção privada e partidária, a segunda tendo um valor moral.

Quarto. Segundo esta perspectiva, os fins — partidários — justificariam os meios — a corrupção, a propina, o saqueio de estatais —, de tal maneira que a imoralidade e a ilegalidade seriam, nada mais, do que meios de atuação partidária. A imoralidade partidária foi erigida em princípio.

Quinto. A corrupção petista, no entanto, não se restringiu ao enriquecimento dos cofres partidários, mas se alastrou também para os seus membros. Os milhões de enriquecimento individual saltam aos olhos e assombram qualquer um. Foi, digamos, um meio perverso de conversão ao capitalismo, tudo passando a valer.

Sexto. Esta conversão perversa é, assim, o fruto de uma concepção do mercado como não tendo nenhuma regra, onde tudo valeria. Na verdade, esta concepção termina por identificar o mercado ao contrabando, não imperando nenhuma lei. Se a lei não vigora em uma economia de mercado, por que os membros do partido deveriam segui-la?

Sétimo. Para que tal política fosse bem-sucedida, seria necessário que a imprensa e os meios de comunicação fossem controlados e supervisionados, de tal modo que a verdade não fosse revelada. Foram inúmeras as tentativas do governo Lula de exercer este controle, aquilo que foi eufemisticamente qualificado como “controle social dos meios de comunicação”. O “social” era o acobertamento da corrupção. Isto é, a corrupção e a imoralidade partidária não poderiam se tornar públicas, pois o projeto partidário terminaria inviabilizado, que é, de fato, o que está acontecendo.

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