Tinha dez anos quando Fidel Castro lançou a batalha econômica que chamou de "retificação de erros e tendências negativas". A raiva do Líder Máximo, em seguida, caiu sobre os agricultores privados e os intermediários que negociavam seus produtos. A praça dos Cuatro Caminos, em Havana, também conhecida como o Mercado Único, recebeu a investida oficial e depois desse "RAID", desapareceram de nossas vidas a cebola, o grão de bico, a pimenta e até mesmo o inhame.
Quase uma década depois, quando o país tinha ido ao fundo do poço com o desabastecimento e a escassez de alimentos, o governo autorizou novamente os mercados agrícolas não-estatais. A primeira vez que me aproximei de uma barraca e comprei um réstia de alho, sem me esconder, era como recuperar uma parte da minha vida que me arrebataram. Durante anos, tivemos de apelar para o mercado ilegal, a precariedade da clandestinidade, para comprar desde uma libra de feijão até sementes de cominho para temperar a comida.
No entanto, o retorno do "mercado de agricultores" não foi livre de ataques e ojeriza governamental. A imprensa oficial culpa os produtores privados como responsáveis pelos elevados preços de muitos alimentos e a figura do intermediário tem sido demonizada ao extremo. Na última Assembleia Nacional se tratou a ideia de impor preços tabelados a certos produtos agrícolas, para forçar os comerciantes a reduzir os valores.
Os consumidores pagam o pato de uma medida que não resolve o problema da falta de produtividade de nossos campos ou dos salários muito baixos
À primeira vista, esta medida parece favorável ao consumidor. Quem não iria tomar como boa a notícia de que uma libra de carne de porco sem osso não volte a superar a 30 pesos cubanos ou nunca mais atinja os astronômicos 50 pesos que pediam no final de 2015, no mercado Egido de Havana. A reação inicial dos clientes seria de beneplácito porque um limão já não tem o valor de 1 CUP ou que o mamão caia abaixo de 5 CUP(*) a libra. No entanto, por trás dos preços tabelados virão males maiores.
O que pode acontecer é que os produtos sujeitos ao controle de preços desapareçam dos mercados agrícolas e novamente mergulhem na clandestinidade. Nós já não poderíamos ir até a esquina para comprar uma libra de cebola, como temos feito nas últimas duas décadas, mas voltar aos tempos em que, no meio da ilegalidade de uma estrada ou de uma colina perdida no nada, fazíamos a transação diretamente com o produtor ou com os intermediários perseguidos.
Os consumidores pagariam o pato de uma medida que não resolve o problema da falta de produtividade de nossos campos ou de salários muito baixos.
A economia não se planifica com caprichos, nem se administra a golpes de restrições, pois é uma estrutura frágil, onde a desconfiança e a propriedade estatal excessiva são como um abraço mortal, que a deixa sem a capacidade de respirar de forma independente. Com esse aperto, os preços tabelados vem a ser o temido beijo da morte que saca o alento do comércio e o deixa sem vida.
(*) - pesos cubanos.
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