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O cartão vermelho que não foi dado

O senador Eduardo Suplicy fez com o presidente Sarney o que a maioria dos brasileiros gostaria de fazer com os políticos: aplicou-lhe um cartão vermelho. Com o seu modo desajeitado e voz trêmula, de quem parece estar tenso por falar em público, o senador petista foi dos poucos da desgastada legenda a agir com independência e coragem em relação à orientação da tropa de choque de Sarney. A atitude rendeu-lhe, na sequencia, a recusa de um aperto de mão pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini e o desprezo da senadora Ideli Salvati, entre outras manifestações hostis de seus colegas de partido. Não duvido que possa resultar em um convite para se retirar da agremiação.

A chamar atenção neste episódio, além da estranha e extemporânea intervenção do omisso senador Heráclito Fortes, é ver a que ponto pode chegar Lula e o petismo para manter o seu projeto de poder. Essa gente não se envergonha, nem cansa, de achincalhar as já fragilizadas instituições. A pantomima de Suplicy, que poderia transformar-se em um símbolo contra os desmandos de Sarney e Lula, virou motivo de chacota no Senado. Na mais escancarada ingerência de um poder em outro, depois de enquadrar o líder Mercadante - aquele que revogou o que disse ser irrevogável -Lula obrigou o partido a divulgar que a opinião de Suplicy não é a do partido, desautorizando o discurso do senador. Com as honrosas exceções que confirmam a regra, o que vemos hoje no senado é um amontoado de fantoches, que obedecem cegamente ao desesperado ex-sindicalista, e agem apenas para garantir a continuidade do (des)governo instalado em Brasília.

Por outro lado, a surpresa ficou por conta de a oposição nada fazer, nem que fosse apenas retumbar a contradição e o racha que existe na base aliada com respeito à continuidade de Sarney à frente da câmara alta. Não li um comentário, uma notícia, nada que merecesse registro em apoio ao gesto de Suplicy. Eles são ineficientes, mas não pensei que fôsse tanto.

Duas coisas ficam claras: Lula acredita piamente que não vai arrumar nada nas próximas eleições sem os preciosos minutos de propaganda a que o PMDB tem direito - e aí pode estar o seu calcanhar de Aquiles - e a oposição continua desnorteada, inerte, como aliás está há quase 7 anos, perdendo todas as oportunidades e reduzindo as nossas esperanças de que no ano que vem possamos dar um cartão vermelho a quem merece ainda mais do que Sarney. Só resta esperar que algum fato novo aconteça, como o fortalecimento da candidatura da senadora Marina Silva, para tornar o pleito de 2010 algo mais interessante.

Comentários

Quem é Marina Silva? Não no sentido de saber sua biografia recente como Ministra do Meio Ambiente, mas sua biografia histórica. Principalmente, à frente do PT acreano - do qual ela é um dos fundadores.

Isso obtido, podemos especular a resposta à outra pergunta: quem será Marina Silva, se eleita? A quem ela irá se aliar - às ditaduras brancas abjetas e delirantes da américa latina recente e ao Foro de São Paulo ou realmente à quem faz o mundo progredir?

Sinceramente, ainda tenho medo dessa resposta.

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