Pular para o conteúdo principal

A cegueira da Justiça

O STF entendeu, por 5 votos a 4, que o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não infringiu a lei, ou melhor, que não lhe pode ser imputada a culpa pela quebra do sigilo bancário do corajoso caseiro Francenildo Costa. A maioria dos que o inocentaram alegou que não havia nos autos provas cabais que a ordem para violar um direito fundamental do humilde cidadão teria partido de Palocci. Ou seja, na falta de outra coisa, desqualificaram a denúncia feita pelo Ministério Público.

Por seu turno, segundo o site G1, o ministro Marco Aurélio, que votou pela continuidade das investigações, teria dito que "raras vezes vi uma peça tão bem confeccionada pelo Ministério Público e assentada em tantos elementos indiciários com relação aos três (denunciados). Continuo convencido de que tínhamos de receber a denúncia para dar ao MP a possibilidade de pelo menos investigar. Até porque a abertura de investigação não significaria presunção de culpa. Mas é claro que a maioria não concluiu assim e no colegiado a maioria tem sempre razão".

O apertado placar mostra o quanto a corte ficou dividida: - Palocci se salvou do processo graças ao presidente e relator, Gilmar Mendes, e aos ministros Eros Grau, Ellen Gracie, Ricardo Lewandowski, e Cesar Peluso. Para estes, os 42 telefonemas trocados entre o agora deputado Palocci e o ex-presidente da Caixa, Jorge Mattoso, no dia em que este último determinou a criminosa invasão da privacidade do caseiro nada revelam, não se pode deduzir que tiveram a ver com a ação. Muito menos teria a visita de Mattoso ao ministro, às 23 horas do mesmo 16 de março, assim como, os 6 telefonemas do ex-assessor, Marcelo Neto, no dia seguinte, à revista Época, que publicou os dados de Francenildo.

Tudo bem, cada um enxerga os fatos de acordo com a sua visão dos mesmos. O debate era se Palocci teria interferido (por exemplo, comandado) na quebra do sigilo bancário. Pra mim, interferiu, mas Suas Excelências entenderam que não. Fazer o que? Só que tem uma coisa que os ilustres juristas estão deixando de lado: mesmo que reste provado que ele não deu a ordem, o ex-ministro Palocci atuou como receptador dos dados, e mais, beneficiou-se (ou tentou se beneficiar) do crime. Não seria, então, o caso de deixarem o processo prosseguir? De se aprofundarem as investigações. Quem garante que algum fato novo não surgiria, comprovando a culpa ou inocentando de vez o ex-todo-poderoso da Fazenda?

São acontecimentos como esse que desanimam a gente. É claro que todos desejamos que os tribunais utilizem o direito como meio para se alcançar a justiça. Justamente por causa disso, esperávamos que o STF discutisse este caso, em todas as suas minúcias, garantindo, sob todos os meios, que a sociedade teria, ao final, uma satisfação convincente. Não foi o que aconteceu. Quero crer que, assim como eu, uma enorme parcela da população ficou decepcionada. Uma vez mais, como disse o ministro Marco Aurélio, endossado pelo colega Ayres Brito, a corda arrebentou do lado mais fraco.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Com corona ou sem corona, dia 15, eu vou!

Em tempos de corona virus, pode parecer estranho, mas, fica mais importante ainda comparecer à manifestação do próximo dia 15. Contra as tentativas sórdidas de congressistas de alto coturno, jornalistas militantes e parte do judiciário, de usurpar poderes, prejudicar ações, e evitar que governe conforme o mandato que lhe concederam, é preciso demonstrar de forma cristalina que o presidente está, cada vez mais, com apoio popular, e que o desejo de que prossiga com as reformas do Estado, o combate à corrupção e à esquerda tacanha, gananciosa e cretina continua firme e forte. O sistema de governo é presidencialista, e isso já foi decidido há mais de 25 anos, quando se jogou uma montanha de dinheiro fora pra oficializar o que todo mundo sabia. É, portanto, intolerável que um presidente eleito, ainda que pairem dúvidas sobre a lisura do pleito, não consiga dar um passo sem que membros vetustos e caquéticos do STF não só opinem como trabalhem contra ele. Que a imprensa a tudo critiqu...

História do Filho da Puta

John Frederick Herring (1795 - 1865) foi um conhecido pintor de cenas esportivas e equinas, na Inglaterra. Em 1836, o autor do famoso quadro "Pharaoh's Charriot Horses", avaliado em mais de $500.000, acrescentou "SR" (Senior) à assinatura que apunha em seus quadros por causa da crescente fama de seu filho, então adolescente, que se notabilizou nessa mesma área. Apesar de nunca ter alcançado um valor tão elevado, um outro de seus quadros tem uma história bastante pitoresca. Em 1815, com apenas 20 anos, Herring, o pai, como era tradição, imortalizou em um quadro a óleo o cavalo ganhador do St Leger Stakes, em Doncaster, na Inglaterra. Até aí, nada de mais. A grande surpresa é o nome do animal: Filho da Puta! É isso mesmo. Filho da puta. Há pelo menos três versões sobre a origem desse estranho nome. A que parece mais plausível (e também a mais curiosa), dá conta que o embaixador português na Inglaterra, à época, era apaixonado por turfe e também por uma viúva com q...

Ibsen - inimigo nº 1 do Rio

Separados no nascimento O deputado Ibsen Pinheiro acaba de se tornar o inimigo público número 1 do Rio de Janeiro. Além de aprovar um projeto estapafúrdio, repleto de inconstitucionalidades, apareceu no Jornal Nacional declarando que os cariocas não sabem o que fazem. De uma só tacada desqualificou o protesto contra a emenda que ontem reuniu, segundo a PM, mais de 150 mil pessoas no centro do Rio, comparando-o à passeata dos cem mil, e ainda desancou os cariocas, prevendo que ficaremos sem nada. Em primeiro lugar, Ibsen comete uma imbecilidade histórica: a Passeata dos Cem Mil não foi de apoio à revolução de 64, como sugeriu, e sim, contra o governo militar, tendo sido organizada em 68, pelo movimento estudantil, com apoio de artistas, intelectuais (eu detesto essa classificação. Afinal, você conhece alguém que se identifica como intelectual? "Prazer, sou um intelectual". Que imbecilidade!) e setores da sociedade. O gaúcho idiota, que já teve o mandato injustamente cassado e...