Pular para o conteúdo principal

Diário do Olavo: burgueses, o mito da neutralidade, liberais, e o Escola Sem Partido

O discurso burguês sobre Estado laico e "neutralidade" nada pode contra o movimento revolucionário, pelo simples fato de que é a mãe dele.

O discurso fascista também nada pode, porque é irmão dele.

Nenhum discurso pronto pode nada contra o movimento revolucionário, porque discurso pronto é coisa de velho caquético, frágil como papel queimado.

Só o que pode contra o movimento revolucionário é a inteligência criadora que o engole e supera como a serpente de Moisés engoliu as serpentes dos magos.

*

Se você, aí na direita, seja líder de movimento, oficial militar, professor universitário, blogueiro ou jornalista etc., tem alguma opinião sobre estratégia anticomunista, por favor NÃO ME CONTE. Muito menos pergunte o que eu acho dela. Eu estudo essa merda faz CINQUENTA anos, provavelmente mais que a duração da sua vida, e entendo que as conclusões formadas ao longo dessa experiência, já confirmadas tantas vezes em previsões certeiras, NÃO TÊM COMO SER TRADUZIDAS na linguagem da contestação a cada opinião de recém-chegado. Seria uma trabalheira sem fim e sem proveito.

*

Quando me convidarem para qualquer evento, estejam avisados: se algum conferencista for pago, eu cobrarei mais que ele. Ou todos trabalhamos de graça por uma boa causa, ou que cada um seja remunerado conforme o seu valor de mercado.

*

A esquerda sempre soube distinguir entre intelectuais autênticos, que existem para fazer análises e diagnósticos, e os "poster boys" e "poster girls" da academia e do show business. O velho Partido Comunista jamais desperdiçaria um Caio Prado Jr. ou um Jacob Gorender usando-os como garotos-propaganda. Para isso sempre existiram as Chauís, os Chicos Buarques, etc.

Já na direita o pessoal só pensa em me exibir no palco ao lado do Rodrigo Cocô Instantâneo e do Kim Katakokinho, para ostentar a "unidade da direita".

*

Os liberais são ótimos na crítica à economia marxista. Só que esse serviço já está feito, pronto e acabado desde os anos 30 do século XX. Nada a acrescentar.

Quando o Hayek subiu acima das chinelas, saltando das análises críticas para a teoria ridícula da "ordem social espontânea", o liberalismo começou a dar o cu aos comunistas e não parou nunca mais.

*

Um esquerdista, quando começa a chamar histericamente o adversário de "fascista", é porque nada sabe contra ele e já perdeu a briga. Temos de espremer a mente esquerdista por todos os lados até que nada mais lhe reste senão o apelo forçado a esse expediente verbal pueril.

Mas, quando o esquerdista fala sobre a impossibilidade de um ensino ideologicamente neutro, ele tem razão. E fomos nós que, por inexperiência e por apego a um mito burguês idiota, lhe demos essa arma.

*

Lição NÚMERO UM da retórica política: Todo ideal tem telhado de vidro, ou melhor, É um telhado de vidro. Não proponham ideal nenhum, modelo nenhum, concentrem-se no "trabalho do negativo", como o chamava Hegel.

Vocês ainda não perceberam que a grande vantagem do gramscismo e do frankfurtismo sobre todas as estratégias comunistas anteriores reside justamente nisso?

*

Na Índia, quando os camponeses desesperados chamavam o caçador branco para matar um tigre, nunca lhe perguntavam o que ele iria pôr em lugar do tigre.

*

Sou culpado de "sobrevalorizar "os resultados do COF? Ora porra, fora deles, e excetuados uns poucos sobreviventes de outras épocas, como por exemplo o prof. Ernildo Stein na filosofia ou o Alberto Mussa na literatura, simplesmente não existe mais alta cultura no país. Se existe, mostrem onde está e provem que nada deve ao COF.

*

O problema do "Escola Sem Partido"' é que as objeções a ele SÃO sérias. A simples idéia da neutralidade é irrealista, é uma autocastração burguesa. É claro que todo movimento que inventarmos encontrará oposição na esquerda, Só temos de zelar para não fortalecer antecipadamente essa oposição preenchendo-a de substância real. Só podemos deixar ao inimigo o terreno inócuo do "flatus vocis", do verbalismo forçado.

*

O "Escola Sem Partido" está corretíssimo nos ideais que o inspiram, mas, pela milésima vez: o problema não é a "doutrinação" comunista "nas" escolas, mas o CONTROLE comunista DAS escolas. Controle total, agressivo e intolerante.

Se ao nomear os crimes do inimigo você já começa por usar uma linguagem eufemística, você não o está combatendo, está apenas provocando. E provocando com aquele misto de audácia e timidez que atrai inevitavelmente uma reação devastadora.

*

Nada enfraquece mais a direita do que o complexo burguês da "neutralidade".

*

Exigir uma escola ideologicamente "neutra" é admitir que existe o direito de ser neutro entre o comunismo e o anticomunismo. Isso é pregar um equivalentismo moral obsceno, que é tudo o de que o comunismo precisa para ocupar espaço e conquistar a hegemonia. E revela-se um erro ainda mais medonho porque a característica fundamental da hegemonia comunista consiste justamente parecer tanto mais neutra e superiormente imparcial quanto mais completamente exerce o controle da situação.

*

Pregar uma "escola sem partido" é sugerir que existem vários partidos em disputa, quando o problema é que só existe um e ele já excluiu todos os outros.

*

O direito moral de ser comunista NÃO EXISTE, como não existe o direito moral de ser assassino, estuprador ou molestador de crianças.

*

O Brasil não precisa de uma escola "sem partido": precisa de uma escola SEM COMUNISMO.

*

O "Escola Sem Partido" sendo acusado pelos seus inimigos justamente do mal que ELES fazem; o Marcel van Hattem saindo no meio de um debate em vez de botar o adversário para correr; a campanha do impeachment quebrando as pernas da direita em vez de aleijar a esquerda -- estes são, entre milhares de outros, indícios eloqüentes da fraqueza estrutural que a direita deve ao complexo burguês da neutralidade e da isenção.

*

Só intelectuais, trabalhadores e religiosos podem se opor eficazmente ao comunismo. Burguês só atrapalha.

*

Toda vez que um burguês dá dinheiro para uma causa, ele já quer recobri-la de xilocaína.

*

É mais fácil vencer uma guerra sem dinheiro do que com o dinheiro dos vacilantes.

*

Os comunistas, nesse sentido, sempre souberam dar o tratamento adequado ao seu aliado burguês: aceitam a grana dele e o mandam ficar sentado quietinho num canto.

A duras penas, os burgueses brasileiros estão aprendendo que, quando oferecem ajuda aos comunistas, têm de oferecer junto os seus cus para ser enrabados antes dos deles. O Marcelo Odebrecht que o diga.

*

Não estou aqui para zelar pelos cus de burgueses imprudentes.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Com corona ou sem corona, dia 15, eu vou!

Em tempos de corona virus, pode parecer estranho, mas, fica mais importante ainda comparecer à manifestação do próximo dia 15. Contra as tentativas sórdidas de congressistas de alto coturno, jornalistas militantes e parte do judiciário, de usurpar poderes, prejudicar ações, e evitar que governe conforme o mandato que lhe concederam, é preciso demonstrar de forma cristalina que o presidente está, cada vez mais, com apoio popular, e que o desejo de que prossiga com as reformas do Estado, o combate à corrupção e à esquerda tacanha, gananciosa e cretina continua firme e forte. O sistema de governo é presidencialista, e isso já foi decidido há mais de 25 anos, quando se jogou uma montanha de dinheiro fora pra oficializar o que todo mundo sabia. É, portanto, intolerável que um presidente eleito, ainda que pairem dúvidas sobre a lisura do pleito, não consiga dar um passo sem que membros vetustos e caquéticos do STF não só opinem como trabalhem contra ele. Que a imprensa a tudo critiqu...

História do Filho da Puta

John Frederick Herring (1795 - 1865) foi um conhecido pintor de cenas esportivas e equinas, na Inglaterra. Em 1836, o autor do famoso quadro "Pharaoh's Charriot Horses", avaliado em mais de $500.000, acrescentou "SR" (Senior) à assinatura que apunha em seus quadros por causa da crescente fama de seu filho, então adolescente, que se notabilizou nessa mesma área. Apesar de nunca ter alcançado um valor tão elevado, um outro de seus quadros tem uma história bastante pitoresca. Em 1815, com apenas 20 anos, Herring, o pai, como era tradição, imortalizou em um quadro a óleo o cavalo ganhador do St Leger Stakes, em Doncaster, na Inglaterra. Até aí, nada de mais. A grande surpresa é o nome do animal: Filho da Puta! É isso mesmo. Filho da puta. Há pelo menos três versões sobre a origem desse estranho nome. A que parece mais plausível (e também a mais curiosa), dá conta que o embaixador português na Inglaterra, à época, era apaixonado por turfe e também por uma viúva com q...

Ibsen - inimigo nº 1 do Rio

Separados no nascimento O deputado Ibsen Pinheiro acaba de se tornar o inimigo público número 1 do Rio de Janeiro. Além de aprovar um projeto estapafúrdio, repleto de inconstitucionalidades, apareceu no Jornal Nacional declarando que os cariocas não sabem o que fazem. De uma só tacada desqualificou o protesto contra a emenda que ontem reuniu, segundo a PM, mais de 150 mil pessoas no centro do Rio, comparando-o à passeata dos cem mil, e ainda desancou os cariocas, prevendo que ficaremos sem nada. Em primeiro lugar, Ibsen comete uma imbecilidade histórica: a Passeata dos Cem Mil não foi de apoio à revolução de 64, como sugeriu, e sim, contra o governo militar, tendo sido organizada em 68, pelo movimento estudantil, com apoio de artistas, intelectuais (eu detesto essa classificação. Afinal, você conhece alguém que se identifica como intelectual? "Prazer, sou um intelectual". Que imbecilidade!) e setores da sociedade. O gaúcho idiota, que já teve o mandato injustamente cassado e...