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Meu primogênito

Há exatos 33 anos, à zero hora deste mesmo dia 10 de novembro, no ano da Copa de 1982 - aquela que o Brasil teve o seu melhor time depois de 1970 - pela primeira vez, experimentei a incrível sensação de ser pai. Foi uma das maiores alegrias que senti na minha já longa jornada. Assim como tudo que é novidade, no princípio fiquei meio confuso, incrédulo, inseguro. Mas, logo fui tomado por uma euforia e uma sensação de realização, quase indescritíveis. A expectativa era enorme, e a espera valeu a pena.

Minhas responsabilidades estão aumentando, foi um dos primeiros pensamentos; em compensação, o convívio, as revelações, a companhia e o que virá serão o outro lado maravilhoso desse desfecho da gravidez. E assim foi.

Ele chegou lindo, forte, pesando quase 3,7 kg, vermelho, e com a testa achatada. Hehehe... Resultado de ter ficado encaixado durante meses e acabar saindo por uma abertura feita pelo homem. Nada que não se modificasse em poucos dias e o fizesse ainda mais encantador.

Ele cresceu rápido e foi um dos maiores e mais lindos bebês que já vi, chegando a pesar cerca de 12 kg no seu primeiro ano de vida. Louro, com uma pela alva, um sorriso largo e frequente, lá foi o meu primogênito ser gente.

Aos 4 anos, na Copa de 1986, recebeu dois novos integrantes da família, que assim quase dobrava de tamanho. Imagino que tenha sido um choque e tanto, mas, ele aguentou firme, como um rapazinho, e sempre foi carinhoso com a dupla que chegou para aumentar o agito. Dali mais 8 anos, na Copa de 1994 - aquela do campeonato vencido nos pênaltis - viu chegar o quarto elemento. E depois de mais 8, mais uma vez em um ano de Copa (2002), assistiu à chegada de uma pequena sereia, já de uma outra matriz, completando o time de quatro mosqueteiros e uma donzela.

Nadador, lutador de judô e jiu-jitsu, jogador de futebol dos melhores, basquetobolista e muito inteligente, tinha jeito para a maioria dos esportes. Depois do colegial, vieram alguns anos em Seropédica, onde obteve um belo diploma, do qual muito me orgulho e a marca de mais de 1000 gols anotados nos campinhos da velha Universidade Rural.

O retorno à capital o conduziu para uma nova profissão, onde parece ter se adaptado e encontrado realização, o que me faz muito feliz.

Esses anos forjaram um homem honesto, honrado, cumpridor do seus deveres, respeitador, íntegro, desprendido, divertido e fiel aos seus compromissos e à sua palavra.

Não poderia encerrar este breve relato, que não faz jus à biografia, muito mais rica e interessante que essas palavras, sem dizer algumas coisas a este filho tão querido: 

- filho, viver não é coisa simples. Não é para amadores. Todo dia nos deparamos com surpresas, a maioria delas, não tão agradáveis. Todavia, há beleza na vida. Precisamos encontrar o equilíbrio e a serenidade. E trilhar o caminho do meio. Como dizia São Francisco: "ter força para mudar o que podemos, nos resignar com o que não podemos mudar. E ter a sabedoria para distinguir uma coisa da outra".

Filho, te amo, muito. Você foi um presente que Deus me deu. Espero que possamos estar muitas vezes juntos, e aproveitar esses momentos da melhor forma possível. Como dizia a sua bisavó, que esteve por aqui durante 97 anos, a vida passa muito rápido. Vamos aproveitar para fazer ela um pouco melhor. Um beijo.



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