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Em meio a tudo isso, a saudade também está presente

Há 7 anos atrás, por volta das 6 da manhã deste mesmo dia 15 de março, morria a minha muito querida avó materna. "Voviginha", era assim que eu a chamava quando pequeno. Ela também era conhecida como "mamãe gande", termo cunhado pelo meu irmão André. Os demais netos a chamavam de "vó", ou "voroca", cada um procurando a forma mais carinhosa de tratar a velha senhora.

Séria, austera, solidária, amiga, companheira, um tanto irascível e turrona, dona de uma voz firme e poderosa, também sabia ser engraçada e bem humorada, e distribuir carinho, do seu modo.

Leitora diária de jornais e lúcida até o último dia, viveu bem informada e consciente de tudo à sua volta. Era capaz de sustentar qualquer conversa, sobre qualquer tema, e sempre tinha uma palavra de sabedoria para dar o seu interlocutor. Adorava conversar. Até hoje, de vez em quando me vem ao ouvido aquele jeito especial de falar, a maneira única com que pronunciava o meu nome.

D. Maria de Lourdes, d. Lourdes, d. Ninita, ou nenén, como meu avô, carinhosamente a chamava, tinha todos esses apelidos, mas, era uma pessoa ímpar, que cuidou de mim com todo desvelo de avó, nas doenças de criança, satisfazendo pequenos caprichos, como me presentear com revistas e gibis que fizeram a minha coleção chegar à casa das centenas, de me dar as minhas guloseimas preferidas e sempre tendo um gesto de preocupação comigo, assim como sempre foi, tenho certeza, com os meus irmãos.

Ninita dedicou ao marido sua vida e um amor, fidelidade, companheirismo, compreensão e carinho que jamais vi igual. Ela levou ao pé da letra, e com máxima seriedade, as promessas que fez para ele no altar.

Uma das cenas mais tocantes que presenciei sobre esta terra, que me emocionou profundamente, aconteceu um dia quando fui à casa dela, e os encontrei sentados à beira da cama, com meu avô já bastante consumido pelas muitas enfermidades que teve, a namorar, sentados um ao lado do outro, de mãos dadas, trocando beijos, suaves, amorosos, fraternos, e olhares, do mais puro e sincero sentimento. Eles não perceberam a minha presença e logo me retirei pois não queria interromper aquele momento sublime, que ficou marcado para sempre no meu coração. Aquela afinidade e afeto foram únicas e acho que hoje as pessoas já não são capazes de sentir daquela forma.

Minha avó viveu longos 97 anos, 4 meses e um dia. Quinze dias antes de sua morte, juntamente com alguns de meus filhos, eu lhe fiz uma visita, e tendo perguntado o que me diria sobre esta comprida jornada, ela, meio sem titubear, resumiu em 3 palavras: - passou muito rápido, Paulo Estêvão (que era o modo como me tratava).

Penso que ali ficou uma das maiores lições, entre as muitas que me deu. A vida passa muito rápido, e é para ser vivida com intensidade, alegria, amor ao próximo, dedicação, interesse, persistência, e um sorriso no rosto. É preciso sorrir, apesar dos desafios, das dificuldades, das incompreensões, da insegurança, da injustiça e das mazelas que assistimos no dia a dia. Os últimos anos da minha avó não foram muito felizes. Ela se sentia solitária e, de certa forma, incompreendida. Mas, até nesta hora mostrou força, dignidade e estoicismo. Deixou o mundo num sopro. Dormiu bem, acordou angustiada e se foi em 15 minutos.

Sinto saudades da minha avó. O mundo ficou mais triste no dia que ela partiu. Como ensinou, a vida continua passando rápido demais. Eu tento frear, mas, não tem jeito. Então, o negócio é continuar, resistir e tentar não desistir. O destino final está nos esperando, mas, é sempre bom lutar. Que seja um bom combate. E será inspirado nos exemplos que minha avó deixou que eu vou pra rua, pelo Brasil. Já dizia o poeta: quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

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