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Lula, Lênin e a Petrobras, por Ruy Fabiano

Não se sabe se Lula conhece a palavra de ordem com que Lênin impulsionava sua militância: “Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é”

Até aqui, quando se aborda o escândalo da Petrobras, pergunta-se quem a roubou, quanto e como o fez. A resposta é parcialmente conhecida: o achaque teve o PT no comando, coadjuvado por seus aliados PMDB e PP, e a quantia chegou à estratosférica casa das dezenas de bilhões.

Conhecem-se alguns operadores, empresários cúmplices e os nomes de agentes públicos (parlamentares, governadores, ministros etc.) citados nas delações premiadas. A lista oficial, a ser divulgada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está sendo aguardada para os próximos dias.

Não se sabe se virá como denúncia ou pedido de abertura de inquérito, o que fará toda a diferença. Se denúncia ao STF e STJ (para o caso de governadores), os citados viram réus; se inquérito, o rito pode ser longo e diluir-se no tempo.

O prejuízo, no balanço não auditado da empresa, tem cifras oficiais: R$ 88,6 bilhões. A ex-presidente Graça Foster disse que foi o que se pôde apurar, mas, aprofundando-se as investigações, “certamente é mais”. Alguns argumentam: mas nem tudo aí é roubo; há também o fator incompetência, incluso na mesma rubrica. Tudo bem. Digamos, então, num raciocínio pra lá de moderado, que o fator roubo seja um quarto daquele valor: R$ 22,1 bilhões. Ainda assim, é dinheiro demais, que excede enormemente ambições pessoais e necessidades partidárias.

E aí entra em cena a pergunta que ainda não se fez, mas que inevitavelmente se fará: para onde foi essa grana? Escondê-la é impossível; fragmentá-la de modo a diluir sua rota parece além do talento mesmo de doleiros experimentados.

Outra coisa: como recuperá-la? O ex-gerente Pedro Barusco se dispôs a devolver a parte que lhe coube: US$ 100 milhões (R$ 280,8 milhões ao câmbio de hoje). Considerando-se o seu grau hierárquico, é possível especular quanto coube aos de cima.

E quem são os de cima? Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento – que detalhou os percentuais que cada partido da base recebia -, disse que se situava no nível médio. E que respondia a gente bem mais graúda. Alberto Youssef garantiu que Lula e Dilma eram os graúdos maiores: sabiam de tudo.

Lula e Dilma negaram a acusação, mas, por ato falho, já a confirmaram. Dilma, ao comentar o rebaixamento da empresa pela consultoria Moody’s, considerou-a “desinformada”, o que sugere que ela, presidente – e ex-ministra das Minas e Energia, ex-presidente do Conselho Administrativo e ex-chefe da Casa Civil -, tem informações que aqueles consultores não têm. Lula, no espantoso ato de “defesa da Petrobras”, na sede da ABI, no Rio, na terça passada, se disse informadíssimo, o que ninguém duvida.

Palavras suas: “Fui o presidente que mais visitou a Petrobras; tenho mais camisas da Petrobras que o mais velho funcionário da empresa. Fui o presidente que mais inaugurou plataformas”. Ora, com tamanha intimidade com a estatal, e tendo nomeado toda a sua diretoria, seria surpreendente que não estivesse a par de tudo o que lá se passava. Tudo.

Não há como sumirem bilhões e bilhões sem que sejam percebidos, sem que uma rede ampla e sofisticada estivesse em ação. E como uma rede dessa, montada pelo presidente da República - e que incluía aquela que viria a sucedê-lo -, passaria despercebida a ambos? A resposta é desnecessária.

A metáfora do queijo, que ele evocou diante de uma militância entusiasmada (“se o rato está acostumado a roubar um pedaço de queijo, que fará diante de um queijo inteiro?”), equivale a uma confissão. E ainda: roubava-se menos porque havia menos dinheiro; como entrou mais dinheiro na Era PT, roubou-se mais.

Resta saber para onde foi esse dinheiro. Há especulações, que, de tão inusitadas, evocam a clássica teoria da conspiração. Mas a própria cifra envolvida, não constasse ela do próprio balanço da empresa, provocaria o mesmo ceticismo. Ocorre que tudo nesse escândalo é inusitado, embora real. Fala-se, por exemplo – e isso acabará tendo que ser apurado –, que parte dessa fortuna teria abastecido os aliados do Foro de São Paulo, coadjuvantes do projeto da Grande Pátria Socialista.

A Venezuela, por exemplo, sem dinheiro até para comprar papel higiênico, renovou a frota de sua Força Aérea; a mesma Venezuela que, no final do ano passado, por meio de seu ministro para Comunas e Movimentos sociais, Elias Jaua, firmou convênio para treinar a militância do MST – “o exército do Stédile”, que Lula quer ver nas ruas contra os “golpistas”.

Não se sabe se Lula conhece a palavra de ordem com que Lênin impulsionava sua militância: “Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é”. Como não é exatamente um estudioso de História – e acha que, por aqui, o PT a inaugurou – é possível que compense a ignorância com seu poderoso instinto político. O certo é que, no ato da ABI, seguiu fielmente a lição de Lênin.

Acusou seus opositores de ter feito com a Petrobras tudo o que de fato ele e o PT fizeram. E os xingou de golpistas. Nada menos. FHC comparou o truque à ação de um punguista que, após bater a carteira da vítima, sai gritando “pega ladrão!”. É por aí.

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