Pular para o conteúdo principal

Editorial do NYT sobre a prisão de Lula

Quando uma enorme rede anti-corrupção pega o político mais popular de um país, a justiça é feita, mas a democracia é testada. Essa é a situação do Brasil, onde Luiz Inácio Lula da Silva - conhecido por seus seguidores fervorosos simplesmente como Lula - se entregou à polícia no sábado à noite para começar a cumprir uma sentença de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Assim começa um percurso tumultuado e imprevisível para as eleições em outubro.
É uma medida da queda de Lula que uma placa no prédio da polícia federal onde ele está sendo mantido ostente seu nome como o presidente que o inaugurou em 2007. Naquela época, ele era mundialmente aclamado pelo combate à pobreza e à desigualdade, e foi proclamado pelo presidente Barack Obama como "o político mais popular da Terra". Centenas de seguidores obstinados de Lula estão acampados em frente ao prédio, a vanguarda de uma poderosa coorte que alegremente votaria em Lula de volta à presidência. apesar de sua condenação.
A prisão de Lula é apenas um resultado, embora o mais dramático, das investigações federais que começaram em 2014 sobre suborno pela estatal Petrobras e a gigante da construção Odebrecht. A “Operação Lava Jato” e investigações relacionadas geraram centenas de acusações e condenações, muitas nos níveis mais altos do governo e da elite corporativa do Brasil, além de multas corporativas multibilionárias.
A varrida deu um grande golpe contra a corrupção no maior e mais populoso país da América do Sul, mas também desestabilizou o sistema político do país, ajudou a empurrar a economia para a recessão e deixou milhares de desempregados. Como o Brasil enfrenta a crise será observado com cuidado por nações que sofrem de corrupção profundamente arraigada.
Pesquisas mostram que Lula ainda possui muito mais apoio do que qualquer outro político brasileiro. Sua prisão, no entanto, torna improvável - embora não impossível - que ele possa concorrer à presidência em outubro. Sua equipe de defesa espera que o Supremo Tribunal decida que prendê-lo antes que ele tenha esgotado seus recursos foi inconstitucional, mas outras investigações contra ele estão em andamento.
Isso deixa o campo e o futuro abertos. Sem o Sr. da Silva, a esquerda começou a se fragmentar. Sua sucessora como presidente, Dilma Rousseff, sofreu impeachment por quebrar as regras orçamentárias; seu sucessor, Michel Temer, o atual presidente, foi acusado de corrupção e seu índice de popularidade está próximo de zero. Por si próprio, o Congresso provavelmente não apoiará nenhuma campanha anticorrupção. Cerca de um terço dos legisladores enfrenta demandas judiciais, mas são efetivamente protegidos por uma Constituição sob a qual altas autoridades e políticos podem ser julgados apenas nos tribunais superiores, que se movem lentamente e raramente condenam. Apesar de todos os sucessos da Operação Lava Jato, nada foi feito para consertar o sistema judicial. O perigo de uma guinada ao populismo e à radicalização política é óbvio.
Por mais dolorosa e desanimadora que seja a queda de um líder carismático e dinâmico, e por mais esgotados que os brasileiros devam estar da devastação política dos últimos anos, não é hora de desistir. A história mostra que a luta contra a corrupção leva anos, mas também que os sucessos incrementais mudam as normas. Juízes como Sérgio Moro, que liderou corajosamente a acusação na Operação Lava Jato, demonstraram que o Brasil tem as instituições e os meios para enfrentar até mesmo os mais poderosos - e os mais populares - malfeitores.
Ainda faltam seis meses para as eleições nacionais. Eles devem ser gastos em busca de um líder que possa garantir que os ganhos contra a corrupção não sejam retrocessos para a democracia.

https://www.nytimes.com/2018/04/12/opinion/lula-brazil-corruption-scandal.html

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Com corona ou sem corona, dia 15, eu vou!

Em tempos de corona virus, pode parecer estranho, mas, fica mais importante ainda comparecer à manifestação do próximo dia 15. Contra as tentativas sórdidas de congressistas de alto coturno, jornalistas militantes e parte do judiciário, de usurpar poderes, prejudicar ações, e evitar que governe conforme o mandato que lhe concederam, é preciso demonstrar de forma cristalina que o presidente está, cada vez mais, com apoio popular, e que o desejo de que prossiga com as reformas do Estado, o combate à corrupção e à esquerda tacanha, gananciosa e cretina continua firme e forte. O sistema de governo é presidencialista, e isso já foi decidido há mais de 25 anos, quando se jogou uma montanha de dinheiro fora pra oficializar o que todo mundo sabia. É, portanto, intolerável que um presidente eleito, ainda que pairem dúvidas sobre a lisura do pleito, não consiga dar um passo sem que membros vetustos e caquéticos do STF não só opinem como trabalhem contra ele. Que a imprensa a tudo critiqu

Esposa de aluguel - quem quer?

Gaby Fontenelle, assistente de palco de Rodrigo Faro, no "Melhor do Brasil". No programa, Gaby encarna a personagem "Esposa de aluguel". Grande idéia! Quem não quer uma morena espetacular com essa fazendo todas as suas vontades?

Perda irreparável

Na terça-feira passada, 17, fui surpreendido com uma das piores notícias da minha vida - um dos amigos que mais gosto, um por quem tenho enorme admiração, um irmão que a vida me deu, havia deixado este mundo. A notícia não dava margem a dúvidas. Era um cartão, um convite para o velório e cremação no dia seguinte. Não tinha opção, a não ser tentar digerir aquela trágica informação. Confesso que nunca imaginei que esta cena pudesse acontecer. Nunca me vi  nesta situação, ainda mais em se tratando do Sylvio. A chei que  ele estaria aqui pra sempre. Que todos partiriam, inclusive eu, e ele aqui ficaria até  quando ele próprio resolvesse que chegar a hora de descansar. Ele era assim,  não convencional e suspeitei que, como sempre fez, resolveria também  essa questão. Hoje em dia, com a divisão ideológica vigente e as mudanças nos códigos  de conduta, poucos diriam dele: que cara maneiro! M esmo os que se surpreendiam ou não gostavam de algumas de suas facetas, contudo, tinham essa opinião.