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Saudades do campeão


No primeiro de maio de 1994, eu chorei. Muito. Chorei a perda de uma pessoa que, apesar de não conhecer pessoalmente, considerava um amigo, um irmão. Chorei o desaparecimento de um homem sofisticado, de hábitos simples; um cara simpático, apesar de meio taciturno; famoso, mas pouco afeito à badalação; um homem comum, porém, um autêntico herói. Mas, principalmente, chorei a perda de um brasileiro, entre os melhores que já houve.

Ayrton Senna da Silva, até no nome, misturando o tradicional com o plebeu, sempre foi surpreendente. De origem rica, Ayrton despertava curiosidade e admiração não apenas pela simplicidade e carisma, mas pelo carinho e respeito devotado a todos, o amor pelo Brasil e pelos brasileiros.

Senna foi um exemplo, de atleta excepcional, de profissional competente e dedicado, e mais ainda, de figura humana inspiradora. Essas, provavelmente, foram as razões do meu lamento ser maior. Não se perde alguém assim, impunemente. Com ele desvaneceu boa parte da esperança, que batia no peito de nós, de termos um Brasil honesto, de homens públicos honrados, instituições fortes, fraterno, democrático, progressista, sem discriminação, e, principalmente, livre da corrupção, da roubalheira, dos falsos líderes, dos mistificadores, dos bandidos que hoje dominam Brasília e a política brasileira. Faltou surgirem outros que levantassem bandeiras, como ele fez.

Acabaram também os domingos de alegria, de reunião em torno da TV para ver um grande brasileiro fazer o que sabia melhor: voar pelas pistas do mundo. Os que vieram depois, não passaram de figurantes no maior palco esportivo do planeta.

Até hoje, o primeiro de maio é para mim um dia de tristeza, de recolhimento, de questionamento, com tanto canalha, tanto crápula, tanto safado, que sentido faz a morte de alguém tão verdadeiramente importante para o Brasil e para a humanidade? Parece papo de tiete, mas não é. Este dia é de muita saudade, de um campeão, no esporte, e na vida.

Não sei para onde vamos, depois de passar pela existência, mas, se existe uma outra dimensão, espero que não saibamos o que se passa por aqui. Nem tanto por causa dos resultados dos seus herdeiros, mas pela degradação do meio ambiente, da política, dos costumes, das relações humanas, desejo que ele esteja descansando em paz, longe de tudo isso. Salve, Senna! O Brasil ficou bem menor, e o mundo muito mais sem graça, desde que você se foi.

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