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O erro de Janot, por Miriam Leitão

Quanto mais o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tenta explicar os termos do acordo da delação de Joesley e Wesley, mais fica inexplicável. A frase de Janot “eles aceitavam negociar tudo menos a imunidade” mostra uma rendição. Ele poderia ter endurecido na mesa de negociação. O céu para um criminoso é a imunidade penal. Os Batista pediram o céu e lhes foi dado.

Joesley e Wesley são bons negociadores e chegaram na PGR dispostos a vencer. Venceram.

— Se eu não aceitasse, os empresários continuariam na mesma atividade ilícita que sempre tiveram — disse o procurador na entrevista a Roberto D’Ávila.

Ora, cabia ao procurador-geral lembrar-lhes que se não colaborassem eles teriam um destino bem mais duro, mais dia, menos dia. Estavam em curso quatro investigações contra a JBS. Joesley tinha medo delas. Seu pavor era acordar numa manhã com a polícia em sua casa. Por isso preparou sua isca, a gravação do presidente da República. Com ela foi, junto com o irmão, ao procurador-geral. Os dois pediram o máximo, exatamente porque é assim que se faz numa negociação. Janot ficou tão atraído pelo que eles tinham a entregar que se rendeu. Se tivesse endurecido, eles recuariam. Acabariam colaborando em termos mais aceitáveis para o país. “Eles aceitavam negociar tudo, menos a imunidade.” Tudo o quê? Depois da imunidade, nada recairá sobre eles. A ideia de que “eles continuariam na atividade ilícita que sempre tiveram” demonstra falta de confiança no próprio Ministério Público, como se a única prova possível fosse aquela oferecida na delação.


Janot concluirá seu tempo de procurador-geral em dois meses. Exerceu seu mandato com coragem. Enfrentou os mais poderosos políticos do país. Mas se rendeu aos irmãos Batista. Ele disse que teve que fazer “uma escolha de Sofia”. Errado. Sofia não tinha saída boa na escolha entre a morte de um dos dois filhos. Mas Janot tinha uma terceira opção: endurecer na negociação, conseguir uma colaboração justa para a sociedade brasileira, em que os criminosos tivessem vantagens, redução de penas, mas não a imunidade, e ele teria os elementos para apurar os crimes de altas autoridades. Faltou a ele frieza e firmeza na negociação. Faltou lembrar que ninguém pode se colocar acima da lei ou fora do seu alcance.

O que os empresários poderiam fazer caso Janot dissesse que não aceitaria negociar a esse preço? Iriam para a casa, esperar a manhã em que a Polícia Federal bateria em sua porta com uma ordem de prisão, em alguma das quatro investigações em curso? Não. Eles aceitariam entregar o material por menos, porque tinham muito a perder. O destino de Marcelo Odebrecht era o que mais temiam.

Joesley montou uma armadilha para o presidente da República. Temer caiu nela, mas não como vítima. Ele teve aquela conversa porque quis. Joesley foi lá gravar porque sabia que poderia tirar de Temer flagrantes comprometedores. Essa certeza ele trouxe de contatos anteriores. Não há explicação para aquela reunião do Jaburu. As versões dadas até agora por Temer e por seu advogado Antônio Claudio Mariz são inverossímeis. Mariz repetiu a tese de que Temer recebeu Joesley porque ele é um grande exportador de carne. O teor da reunião os desmente. Nada se falou sobre isso. O centro daquela conversa é a Lava-Jato e o que Joesley estava fazendo para controlar juízes, procuradores e presos. A estratégia de desacreditar as provas é velha, conhecida. A reunião é reveladora, mas não é ela que traz a prova definitiva do crime de que Temer foi acusado.

O centro da acusação de Janot é que Temer era o destinatário final dos R$ 500 mil da mala. E isso, como Janot admitiu, terá que ser provado. Os indícios são fortes: Temer nomeia Rocha Loures seu representante para “tudo”. E Loures é flagrado recebendo a mala. A aposta da defesa é que isso não será suficiente juridicamente. Mas agora começa um processo político.

Janot, ao aceitar dar aos irmãos tudo o que pediram, atingiu a alma da Lava-Jato. O que construiu o forte apoio da opinião pública à operação é o combate à impunidade, ou, como prefere o procurador: “Pau que dá em Chico dá em Francisco”. Mas ele poupou os Batista. Esse foi o erro de Janot.

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