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Uma ideologia a serviço da corrupção, editorial d'O Globo

Fonte que parece inesgotável de revelações de meios e maneiras de se fazer tráfico ilegal de dinheiro extorquido do contribuinte — por se originar do superfaturamento de contratos com estatais —, a videoteca das delações da Odebrecht mostra como a proliferação dessas empresas e a ideologia lulopetista estão na base do maior assalto já praticado aos cofres públicos. 

Tudo foi facilitado pela visão intervencionista, terceiro-mundista, estatista do lulopetismo, radicalizada por Dilma Rousseff, somada à desmesurada participação do Estado na economia do país. 

Com estatais-chave aparelhadas, assim como segmentos da administração direta, foi possível, por exemplo, Emílio Odebrecht, interlocutor direto de Lula, fazer pedidos insensatos ao ex-presidente — e ser atendido. Até por meio de intermediários. Um deles levou o BNDESa usar linha de crédito subsidiado pelo Tesouro — dinheiro do contribuinte — para financiar a construção do Porto de Mariel, em Cuba. Emílio relata que o caudilho venezuelano Hugo Chávez havia defendido, para ele, que a empresa executasse a obra. Ponderou o patriarca da Odebrecht que seria necessário, porém, o financiamento do banco estatal brasileiro. Sugeriu a Chávez que falasse com Lula; assim foi feito, e o BNDES entrou na operação. Contra suas normas operacionais, reconhece o empreiteiro. 

Gastos bilionários bancados pelo Tesouro, a partir da vontade dos poderosos de ocasião (Lula e Dilma), também ocorreram na Petrobras. Caso já clássico é o da Refinaria Abreu e Lima, outro projeto em que Chávez interveio para que fosse executado de qualquer jeito. Desta vez, com a promessa de ajudar no investimento, para que a unidade processasse petróleo pesado venezuelano. Depois, não desembolsou um bolívar. E a refinaria foi um dos projetos usados para o saque à Petrobras, por meio do superfaturamento de contratos com empreiteiras, esmiuçados pela Lava-Jato. A estimativa inicial de investimentos terminou multiplicada por dez, a ponto de ser impossível a Abreu e Lima um dia se pagar. 

A afinidade pessoal entre Lula e Emílio deve ter custado bilhões ao Tesouro. Marcelo Odebrecht confessa que não concordava com negócios impostos pelo petista. Um em que entrou a contragosto foi o da Sete Brasil, consórcio engendrado dentro da Petrobras para que, numa sociedade entre bancos privados, públicos, fundos de estatais e empreiteiras, se fabricassem no Brasil sondas para explorar o pré-sal, a serem arrendadas para a Petrobras. 

Mas, dentro da política de substituição de importações, como a do presidente Geisel, na ditadura: estabeleceu-se que o conteúdo nacional teria de ser de 60%. Uma política “meio burra”, disse o empreiteiro na sua delação. Em que fez uma comparação fulminante: a Coreia do Sul, com longa experiência neste tipo de equipamento, usa apenas 35% de componentes e serviços coreanos. E, como esperado, a Sete Brasil foi para os estaleiros de recuperação judicial. 

O conteúdo da videoteca da Odebrecht aponta para a conclusão de que a ideologia foi usada para a rapinagem de dinheiro do Tesouro, a fim de financiar a perpetuação no poder e a boa qualidade de vida de altos comissários, como o mais graduado deles, Lula, além José Dirceu, Palocci e outros. Fez, então, todo sentido não haver qualquer preocupação com a viabilidade técnica dos investimentos.


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