Pular para o conteúdo principal

Demolição de valores, por Dora Kramer

Mantido o rumo pelo qual enveredou a campanha à Presidência da República o que se pode esperar dos próximos 18 dias até o primeiro turno e depois mais 20 antes da etapa final não é um clima emocionante típico das eleições bem disputadas, como pareceu quando Marina Silva entrou na competição.
Disputas pressupõem confrontações de argumentos, embates travados mediante a observância de determinadas regras. Pois o que temos no cenário desde que o governo decidiu mandar às favas os escrúpulos e fazer o diabo para tentar vencer as eleições não guarda a menor relação com troca de argumentos e muito menos com obediência a qualquer tipo de regra.
Por ora há uma perplexidade. Um pouco pela falta de cerimônia no uso de mentiras tão deslavadamente mentirosas, um pouco pelo fato de ainda haver um contingente disposto a acreditar nelas.
Daqui a pouco poderá haver um cansaço com a atuação de uma gente que mente e reiteradamente se desmente sem a preocupação de preservar a própria biografia ou respeitar a liturgia do cargo.
Além de candidata, Dilma Rousseff é presidente da República. Ao mesmo tempo em que ter certas prerrogativas que lhe dão vantagens inerentes ao posto, tem deveres decorrentes da função que a diferenciam dos demais concorrentes.
O grau irrepreensível "no que se refere" à compostura é um deles. O comedimento, a austeridade sempre invocada como uma de suas qualidades não autoriza sua chancela no uso de mentiras. Muito menos que se faça pessoalmente porta-voz delas. Embora não condiga com seu discurso de correção é o que vem fazendo.
A presidente está dizendo ao povo que governa que os adversários vão acabar com esse ou aquele benefício social, que vão tirar verbas da saúde e da educação, que empresários e banqueiros se regozijam com a fome do brasileiro, que o governo do PT combate como ninguém a corrupção.
Ainda que os adversários quisessem mesmo acabar com os benefícios, vender a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, reduzir os investimentos em saúde e educação. De onde a presidente tirou isso se nunca disseram nada parecido? Da cabeça de seus conselheiros que a mandaram repetir tudo isso.
E o combate à corrupção? Tema evitado a todo custo pelo governo. Se fosse tão espetacular como se diz agora no horário eleitoral, o assunto já estaria muito antes entre os "grandes feitos" e não deixado para ser incluído quando começa a se fechar o cerco a respeito dos esquemas na Petrobrás.
Isso dito quando se viram tantos escândalos serem abafados. Sem contar o fato de a antiga cúpula do partido estar quase toda na cadeia por força de um julgamento tido pelo PT como produto de um "tribunal de exceção".
Nessa nova fase até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que andava meio arisco se animou a aparecer exercendo seu conhecido dom de iludir - quem quer ser iludido, bem entendido. No ato público desta segunda-feira, no Rio, onde se pretendia "abraçar" a Petrobrás, mas que o público presente não foi suficiente para um aperto de mão, Lula voltou a atacar o financiamento privado de campanhas. Disse que deveria ser crime inafiançável.
No mesmo dia circulava um e-mail do PT a empresários apresentando, em nome de Dilma, "a oportunidade de contribuir financeiramente para a campanha da reeleição da presidenta da República", no que a correspondência qualificava como uma "ação empresarial cidadã".
É de se imaginar que o governo queime pontes confiando que, reeleito, poderá reconstruí-las pelo poder que a vitória tem de curar feridas. Agora pensa exclusivamente nas eleições. Por dever de responsabilidade conviria pensar que além de uma eleição há um País a ser governado e que não merece assistir a tão completa e definitiva escalada de demolição de valores.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Com corona ou sem corona, dia 15, eu vou!

Em tempos de corona virus, pode parecer estranho, mas, fica mais importante ainda comparecer à manifestação do próximo dia 15. Contra as tentativas sórdidas de congressistas de alto coturno, jornalistas militantes e parte do judiciário, de usurpar poderes, prejudicar ações, e evitar que governe conforme o mandato que lhe concederam, é preciso demonstrar de forma cristalina que o presidente está, cada vez mais, com apoio popular, e que o desejo de que prossiga com as reformas do Estado, o combate à corrupção e à esquerda tacanha, gananciosa e cretina continua firme e forte. O sistema de governo é presidencialista, e isso já foi decidido há mais de 25 anos, quando se jogou uma montanha de dinheiro fora pra oficializar o que todo mundo sabia. É, portanto, intolerável que um presidente eleito, ainda que pairem dúvidas sobre a lisura do pleito, não consiga dar um passo sem que membros vetustos e caquéticos do STF não só opinem como trabalhem contra ele. Que a imprensa a tudo critiqu

Esposa de aluguel - quem quer?

Gaby Fontenelle, assistente de palco de Rodrigo Faro, no "Melhor do Brasil". No programa, Gaby encarna a personagem "Esposa de aluguel". Grande idéia! Quem não quer uma morena espetacular com essa fazendo todas as suas vontades?

Perda irreparável

Na terça-feira passada, 17, fui surpreendido com uma das piores notícias da minha vida - um dos amigos que mais gosto, um por quem tenho enorme admiração, um irmão que a vida me deu, havia deixado este mundo. A notícia não dava margem a dúvidas. Era um cartão, um convite para o velório e cremação no dia seguinte. Não tinha opção, a não ser tentar digerir aquela trágica informação. Confesso que nunca imaginei que esta cena pudesse acontecer. Nunca me vi  nesta situação, ainda mais em se tratando do Sylvio. A chei que  ele estaria aqui pra sempre. Que todos partiriam, inclusive eu, e ele aqui ficaria até  quando ele próprio resolvesse que chegar a hora de descansar. Ele era assim,  não convencional e suspeitei que, como sempre fez, resolveria também  essa questão. Hoje em dia, com a divisão ideológica vigente e as mudanças nos códigos  de conduta, poucos diriam dele: que cara maneiro! M esmo os que se surpreendiam ou não gostavam de algumas de suas facetas, contudo, tinham essa opinião.